A propósito do dia da água a Antena Um promoveu um debate sobre a situação de seca no Alentejo, no contexto da existência do Alqueva.
O que mais me chamou a atenção foi uma intervenção "contundente" de um senhor Carlos Silva que suponho ter um cargo de grande responsabilidade na empresa gestora do projecto do Alqueva.
O referido senhor – confrontado com o facto da água existir armazenada na grande barragem, mas não existir no local onde faz mais falta, os campos secos do Alentejo– explicou que existe um tempo "enorme" entre a decisão de construir uma determinada obra e o momento em que essa construção se pode iniciar. E enumerou os meses gastos com a adjudicação do estudo prévio, a execução do mesmo, a sua aprovação, o concurso para adjudicação do projecto de execução, o prazo para a sua execução, a sua aprovação, o concurso para a adjudicação da empreitada de construção e a sua adjudicação, além da questão dos financiamentos. Muitos meses, vários anos concluiu, esmagador, o referido senhor.
Não explicou, no entanto, qual a razão pela qual só agora estão em construção as obras que permitirão levar a água aos que dela necessitam. Ou melhor porque razão existe uma diferença de tantos anos entre o dia em que a água está armazenada e o dia em que as populações podem utilizá-la, pelo menos para rega e para matar a sede aos animais.
É que a sua “lógica aditiva” tinha um pequeno buraco negro. Nada dizia sobre o método de determinar a data a partir da qual se deve contar aquele tempo todo que as coisas levam a "organizar-se", segundo a sua douta explicação. Há um método, muito aplicado no nosso País, que é o de que o tempo conta desde que "a gente" se lembra. Há um outro, em franco desuso, no qual o tempo é contado de forma regressiva a partir do dia mais próximo em que "a coisa" pode estar ao serviço dos seus destinatários.A este método, os mais antigos, chamavam planeamento.
Todos sabemos já que não foi este o método utilizado e que há um “buraco negro” nesta história. Por onde, aliás, escorre, inútil, a água do Alqueva.


 

Pedra do Homem, 2007



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