O texto de Miguel Sousa Tavares, no Público da passada sexta-feira, insiste no erro de tratar como igual aquilo que é absolutamente diferente. A utilização do conceito de funcionário público para analisar a "infinidade de privilégios e de excepções escondidas debaixo dos tapetes da administração pública" é uma escolha de mérito duvidosos. Não faz qualquer sentido considerar como semelhantes a situação de um administrador do Banco de Portugal, de um juíz do Tribunal Constitucional ou de um professor do ensino secundário que beneficia de uma progressão automática na carreira. No primeiro caso simples seis anos de exercício justificam uma "modesta" pensão vitalícia de 15000 Euros. No segundo caso bastam 40 anos de idade e mais de 10 de exercício do cargo para justificar o direito à reforma. Na esmagadora maioria dos funcionários públicos a progressão salarial é paupérrima e a reforma só vem no fim da vida, quando a classe política não resolve alterar as regras, entretanto.
Os verdadeiros funcionários públicos são quem assegura o funcionamento das estruturas apesar das chefias incompetentes que o sistema político lhes impõe. Em condições de trabalho e de remuneração modestas, ainda por cima.
A Administração Pública tem hoje os seus lugares de topo "conspurcados" por uma rapaziada que aí acede por pura e simples nomeação partidária. Existem na Administração Central, na Administração Indirecta do Estado, na Administração Local do Estado e na Administração Autárquica do Estado. São caros, porque ganham muito. São os "funcionários públicos" (sem ofensa para os verdadeiros) que melhor ganham. São caros porque quando o Governo, que os nomeia, cai sai-lhes a sorte grande. Recebem avultadas indemnizações, vendem em proveito próprio os luxuosos carros de serviço e ficam em lugares de "recuo" a aguardar que a situação política se altere. Entretanto, começam a beneficiar de "pequenas" pensões vitalícias acumuláveis. São caros porque em regra são incompetentes. E como se sabe a incompetência é a mais cara "qualificação" que alguém pode exibir.
O que não se sabe é qual o peso desta gente nos custos totais com pessoal na Administração Pública. Talvez então fosse possível perdermos menos tempo com aqueles funcionários que passados três anos vêem os seus modestos 900,00 Euros mensais actualizados em 5,27%.


 

Pedra do Homem, 2007



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