O discurso de Manuel Alegre, no jantar de Viseu, parecia estar construído para conduzir ao anúncio da sua candidatura, contra a "lógica dos aparelhos" e recusando a "candidatura patriarcal" de Mário Soares. Desde o início Alegre distanciara-se do PS com uma crítica violenta, e a vários títulos certeira, à incompetência do(s) Governo(s) e à demissão do Estado. Mas também à forma como Sócrates geriu este processo. Mas Alegre é assim. Não questionando o passado histórico da personagem, e o que isso significou de coragem e de decisão, na democracia Alegre dá quase sempre um passo atrás mesmo quando acaba de enunciar as diversas razões que legitimariam que desse um passo em frente. Assunto encerrado para já, que os seus apoiantes e promotores do jantar ainda acreditam na sua candidatura. Provavelmente mais do que ele.
Este jantar constitui uma manifestação com inevitáveis leituras políticas: ilustres socialistas estiveram presentes numa manifestação clara de discordância com a solução Sócrates/Soares. Como fará Soares o pleno das esquerdas com a expressão pública do afastamento do republicano Alegre e dos que o apoiam no PS?


 

Pedra do Homem, 2007



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