Encerrou a sétima edição do Festival de Músicas do Mundo que, como habitualmente, trouxe ao Castelo de Sines músicas de todos os cantos do globo e gente de todas as paragens.
A sétima edição experimentou uma versão maximalista, muito influenciada pelas particularidades do ano, e cuja sustentabilidade é no mínimo discutível. O Festival estendeu-se ao longo da noite, durante os três dias, baixando à Avenida, e estendeu-se espacialmente no concelho com a realização de alguns eventos em Porto-Côvo.
O FMM é uma realização importante para o concelho de Sines e deve continuar. Por isso defendi que os candidatos autárquicos deveriam esclarecer a sua posição sobre esta matéria. Mas isso não significa que o FMM seja a manifestação da existência de uma política cultural ou que seja sequer uma base para uma política cultural no concelho. Para isso não basta ter dinheiro e organização, neste caso ao seviço de uma boa ideia. É necessário ter respeito pelos actores individuais e colectivos e capacidade democrática para conviver com a crítica e com a diferença. Ora sendo a regra a eliminação e a exclusão dos actores e a sua substituição por correligionários e/ou por funcionários nada de bom daí virá. Por muitas infraestruturas que se construam a política cultural tem que emanar da sociedade, dependendo sobretudo do capital humano que se estimula ou não, que se acarinha ou se exclui. Infelizmente, para os que padecem de um incontrolável défice democrático, o capital humano não se pode funcionalizar. E ainda bem senão "reinariam", com a sua corte, sobre o mundo dos simples mortais.
Voltam agora, ao concelho de Sines, os dias tristes e vazios do costume. Hoje primeiro dia de Agosto parece que acabou o Verão. As pessoas que durante três dias encheram as ruas da cidade, os cafés, os restaurantes partiram. A Zona Histórica ficou vazia e triste sob a luz amarela dos "novos" candeeiros de estilo, da iluminação pública. Não se pode comprar animação para um mês ou para um ano. A vida não é um festival. A cidade antiga volta depois dos últimos aplausos para mostar, cruel, que os problemas permanecem.
Os três dias do Festival recuperam aspectos da vivência de Sines até ao final da década de oitenta, príncipio da década de noventa. Uma cidade democrática, lugar de encontro(s), porto de chegada e de partida, lugar de troca e de descoberta. Uma cidade que se organizava à volta do espaço público, nas ruas da Zona Histórica, nos seus bares e cafés, nas praças e nos largos, nos muros da praia, junto ao Castelo. Uma cidade interclassista. O Festival na sua ideia original homenageava esse espiríto. O espírito da viagem do Gama, de dar novos mundos ao mundo, trazendo até nós gentes e músicas que a globalização torna dispensáveis e marginais. A ironia está no facto de esse espírito ter desaparecido. Não por uma qualquer fatalidade mas sim fruto de opções políticas concretas que fazem da cidade aquilo que ela é hoje. A segunda ironia reside no facto de os responsáveis políticos e os maiores financiadores do festival, serem os mesmos que conduziram a cidade de Sines ao actual beco sem saída. Com uma triste eficácia.
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