Na minha última passagem por uma das discotecas que promove ao longo de todo o ano "noites temáticas" tipo "músicas dos anos sessenta mais os últimos êxitos da Ivette Sangalo" percebi que a generalidade dos "fósseis" utiliza como prólogo de qualquer conversa a frase "Já cá não vinha há mais de um ano." Uma velha amiga aproximou-se cautelosamente, com evidente expectativa de que não a reconhecesse depois do último lifting facial que, infelizmente, deixou tudo na mesma. Após os beijinhos da ordem, atirou com naturalidade: "Ai, já cá não vinha há mais de um ano!" Para depois continuar com informações sobre a evolução demográfica da Freguesia - onde é que ela mora? - com a notícia do nascimento da sua primeira neta. De repente senti um misto de suor e base a escorrer pelas faces. Fui-me lavar.
Depois de mais alguns encontros, sempre introduzidos pela clássica frase, comecei a ficar afectado. Cruzei-me com um amigo e atirei-lhe para começar: "Já cá não vinha desde a última vez." A cara aparvalhada do homem alertou-me. Desde a última vez? Porra, enganei-me. Queria dizer, há mais de um ano. Vou mijar.


 

Pedra do Homem, 2007



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