A nossa direita, cuja presença nos média é notável, não pára de carpir as mágoas do resultado eleitoral na Alemanha. Os títulos e os editoriais variam entre a definitiva afirmação de "foi a Alemanha que perdeu eleições..." de José Manuel Fernandes, no Público, ao fantasma das consequências para o pobre Portugal, como escreve Pedro Ribeiro no mesmo jornal. Para muitos só um resultado fazia sentido: a vitória, clara, da direita. O povo alemão, estúpido, não lhes fez a vontade. A vitória de Merkel, que era maioritariamente considerada como menos competente para exercer o cargo do que Schroeder pelos (estúpidos) alemães, permitiria por si só a retoma, asseguram. As explicações para isso são pobres e resumem-se a uma presunção de que a senhora iria fazer implodir o modelo social alemão. Será essa a via para diminuir o desemprego, retomar o crescimento económico, diminuir o défice público? Os analistas da direita não perdem tempo com estas questões. Afinal o que lhes interessa é pura e simplesmente redefinir a posição da Alemanha na Europa, substituindo o eixo Paris-Berlim pelo eixo Londres-Berlim, reforçando a influência da Administração Bush no velho Continente. E sobretudo acabar com o modelo social que impede a precarização do trabalho e tem essa coisa inaceitável de impor níveis consideráveis de redistribuição da riqueza produzida. Um passo para esse caminho era a introdução do imposto único "à la Kirchhof". Os alemães estúpidos tão próximos do paraíso não quiseram entrar. Suspeitaram que por detrás da porta estavam as labaredas do inferno.


 

Pedra do Homem, 2007



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