Ana Gomes, no Causa Nossa, a propósito do regresso de Fátima Felgueiras escreve um texto no qual são patentes várias confusões e mesmo alguns esquecimentos bastante pouco compreensíveis. Em primeiro lugar Ana Gomes confunde força com poder. Fátima Felgueiras teve, e tem, o poder de não aceitar decisões da justiça desde que não concorde com elas. Foi por entender que estava inocente, um direito que lhe assiste, que se recusou a acatar a decisão da prisão preventiva e resolveu fugir, uma atitude inaceitável. O cidadão comum nas mesmas condições vai parar aos calabouços, como Ana Gomes não ignora. Volta forte, desafiadora e remoçada, como diz a eurodeputada, porque como todos sabemos as condições de alojamento no Brasil ou em Tires são muito diferentes, sendo que as primeiras remoçam e as segundas envelhecem, e porque terá negociado as condições do seu regresso. Um inaceitável privilégio, a ser verdade. Daí a poder-se concluir que a força do "remoçamento" transmite uma ideia de que se sente injustiçada vai uma distância infinita.
Mas o maior equívoco é na questão das solidariedades. Confundir o que se passou com Ferro Rodrigues com a situação de Fátima Felgueiras é chocante. O PS, do meu ponto de vista, terá colaborado na "liquidação" política de Ferro Rodrigues, mas manifestou ad nauseum solidariedade com a autarca de Felgueiras. Recorda-se de Narciso Miranda, de Jorge Coelho, dos seus camaradas socialistas de outros concelhos e até de Francisco Assis, apesar do que lhe aconteceu posteriormente? Recorda-se do que aconteceu a Barros Moura, que pagou um preço elevado por ter sido o primeiro - ou o único? - a denunciar o comportamento da autarca, ele que era Presidente da Assembleia Municipal de Felgueiras e estava bem informado? Foi afastado das listas de deputados, não é verdade? E não teve a mínima solidariedade do PS. Ainda agora a ex-autarca não corta as ligações ao partido, assumindo ter telefonado a Sócrates para lhe dar conta da sua candidatura e do seu regresso. Pelo lugar que ocupa e por lhe "merecer consideração pessoal" afirmou. Essa história da solidariedade está mal contada.


 

Pedra do Homem, 2007



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