Luís Osório regressou à blogosfera com uma crítica duríssima a Manuel Alegre. Para Luís Osório "O discurso de Manuel Alegre foi uma traição ao seu passado. O que disse de Soares, e a forma como o disse, é reveladora de um autismo agudo." Não me parece razoável esta crítica, embora entenda que a declaração de desistência, foi disso que se tratou, devesse ter sido feita de outra forma, sem o dramatismo de que se revestiu. Sou dos que acham que Mário Soares é o melhor candidato da esquerda para defrontar Cavaco. Com muitas mais hipóteses de derrotá-lo do que Alegre. Mas para isso julgo que não se deverá rodear de grande parte daqueles que estiveram na primeira fila. Isto para dizer que subscrevo, por inteiro, a análise que Luís Osório faz das possibilidades de Soares. O Soares que é fixe, hoje e nos próximos anos, é o Soares cujas ideias, nas palavras do próprio, mudaram e evoluíram. Pela simples razão de que as outras eram fixes há 20 anos atrás e o mundo não parou de evoluir e os problemas de se agudizarem. O Soares que luta e denuncia os aspectos sórdidos da globalização, a exploração desenfreada dos trabalhadores pelo grande capital sem rosto, a exploração em proveito de alguns, poucos, dos recursos naturais do planeta, a inaceitável distribuição da riqueza à escala global mas também a degradação da política interna com a corrupção crescente, a emergência de um carreirismo que domina e escraviza os partidos, um carreirismo feito de expectativas de proveitos pessoais e não de causas e ideias, é o Soares pelo qual vale a pena votar a pensar no futuro. Ora muitos dos protagonistas que apareceram a rodear Soares são parte do sistema blindado que envolve hoje a política portuguesa, que admite alternância mas não alternativa e que se fecha, desde há décadas, em volta das mesmas figuras e dos mesmos interesses. Espero que o "velho" Soares com a sua juventude, a sua energia, a sua sabedoria e o seu inconformismo, faça essa última revolução ajudando a reformar o sistema político de que é um dos fundadores, descendo "às ruas na companhia de um exército jovem e optimista" para citar outra vez Luís Osório.


 

Pedra do Homem, 2007



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