O que se tem passado nos últimos dias nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, com as tentativas desesperadas de pessoas provenientes da África subsariana de emigrarem para Espanha, trouxe-me à memória um livro de Louis Emmerij cujo título é. “Norte – Sul; A granada Descavilhada. O porquê da ameaça do subdesenvolvimento ao Ocidente.” editado pela Bertrand em 1994.
“ (…) Esta noção de mercado global usurpa no entanto um pouco o seu nome. Ela aplica-se sobretudo à América do Norte, à Europa Ocidental, mais genericamente os países da OCDE, bem como os do Sudeste Asiático. Em suma, engloba apenas os Estados que, transportados por um comboio de alta velocidade, seguem a direito pela via rápida da economia, e exclui os países menos desenvolvidos que, por seu lado, derivam lentamente pelo terminal de autocarros, marginais a esse famoso mercado mundial. (…) O principal problema do nosso planeta não é tanto a existência de uma economia a várias velocidades. Os países sempre se desenvolveram a ritmos diferentes. O novo facto, e grave, é que os países lentos e os países rápidos deixaram de avançar na mesma direcção, mas pelo contrário, divergem. (…) Os privilegiados do TGV persistem em crer que representam toda a economia mundial, e preocupam-se cada vez menos com a oferta e a procura dos países pobres. Quanto à ajuda ao desenvolvimento tende a mais não ser do que tempo perdido.(…) Esta ofuscação não terá, de resto, somente consequências económicas. As populações obrigadas a viver na miséria não vão vergar-se indefinidamente à sua condição sem protestar. Os meios de comunicação permitem-lhes vislumbrar os modos de vida ocidentais – a televisão por satélite, por exemplo, retransmite um luxo ostentatório ao seu olhar. A partir daí, como salientava o malogrado demógrafo e economista francês, Alfred Sauvy, se o dinheiro não vai ter com os homens, irão os homens ter com o dinheiro.”


 

Pedra do Homem, 2007



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