A crítica feita por Mário Soares relativamente às declarações de Cavaco sobre os "profissionais da política" foram objecto de críticas duras de alguns sectores. Pacheco Pereira, no Abrupto, distorce a intervenção de Soares remetendo para a questão da pensão. "É triste ver o desespero de causa que leva Mário Soares a levantar a questão da pensão de Cavaco". Ora toda a gente percebeu que o que Soares disse foi que não é aceitável que Cavaco Silva se coloque na posição do "político não profissional", ele que governou o país durante dez anos, foi candidato uma vez às eleições presidenciais e, naturalmente, em consequência dessa sua actividade profissional , recebe uma pensão nos termos legais. Não estava em causa a legitimidade da pensão, que funciona como a prova do exercício durante mais de dez anos da actividade política profissionalmente ao mais alto nível.
Outra posição desdramatiza a questão remetendo para uma posição natural do candidato de pretender dissociar-se de quem é político profissional. Esta posição, expressa na Bloguitica, levanta duas questões. Por um lado, Cavaco disse o que disse com objectivos claros, no contexto do combate político para a eleição de Janeiro que está a travar desde há vários meses (ou anos?). Pretendeu identificar depreciativamente os seus concorrentes e particularmente Mário Soares. Por outro lado será sensato admitir que alguém que já foi primeiro-ministro dez anos e pretende ser Presidente por mais dez, possa sequer insinuar que a política não é a sua verdadeira profissão? Será que neste interregno entre a sua saída do Governo e o momento actual, com uma candidatura presidencial de permeio, a vida profissional de Cavaco não foi influenciada pela sua actividade política?
Talvez pudéssemos partir do princípio de que o próximo inquilino da Presidência da República será sempre um político profissional. Naturalmente e sem injustificadas relutâncias.


 

Pedra do Homem, 2007



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