"Mecânica humana. Todo aquele que sofre procura tansmitir o seu sofrimento - seja maltratando, seja provocando piedade - a fim de o diminuir, e assim consegue, realmente, diminuí-lo. Quanto àquele que está mesmo em baixo, que ninguém lamenta, que não tem o poder de maltratar ninguém ( se não tiver filhos ou alguém que o ame), o seu sofrimento permanece e envenena-o.
Tal é imperioso como a gravidade. Como se escapa a isto? Como se escapa ao que é igual à gravidade? "
Simone Weil in A Gravidade e a Graça

Se relacionarmos estas palavras com a onda de violência que se verifica em França, podemos colocar uma questão:
Qual a raíz do sofrimento que corrói esses jovens que espalham a violência? É certamente um sofrimento que se transmite. Um sofrimento que veio dos pais e em relação ao qual não têm meios, nem espaço para o transformar, nem referências culturais para o dizer através de uma força positiva, geradora de contra-poder. Porque as sociedades se fecham, cada indivíduo se fecha, os grupos sociais fecham-se em si próprios, a comunicação entre eles estabelece-se de forma incipiente e ilusória. Todos nós já nos deparámos com essas portas fechadas.
Talvez o que impele estes jovens à reacção não seja unicamente o sofrimento, mas a presença de um vazio que se espalha nas sociedades actuais, muito particularmente nos subúrbios das grandes cidades. Um vazio que apaga do futuro a esperança de um dia melhor; um vazio onde a vida humana real se torna insuportável; um vazio que obriga a que a vida humana de hoje seja outra coisa, qualquer coisa que seja a negação do ser humano.


 

Pedra do Homem, 2007



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