No último número da revista Visão encontram-se duas perspectivas muito interessantes sobre o posicionamento do PS, e dos seus principais dirigentes, na campanha presidencial. De um lado Mega Ferreira discorre sobre a, para si, injustificada tese de que a vitória de Cavaco é melhor para Sócrates. O cronista argumenta com o distinto perfil social-democrata de cada um e utiliza a aparição de Sócrates em Viseu como o definitivo esclarecimento sobre a vontade do primeiro-ministro. A possível falta de entusiasmo de Sócrates na campanha, que alguns terão detectado até agora, a inexistência de qualquer referência expressa ao candidato da direita, que outros igualmente salientam, a constatação, feita por outros, de que Cavaco parece ser o único candidato presidencial que subscreve sem hesitação as mais duras medidas de Sócrates não comovem António Mega Ferreira.
Do outro lado aparece José Carlos de Vasconcelos que centra a sua crónica nos efeitos à esquerda não só das duas candidaturas originárias do mesmo espaço político mas também dos efeitos provocados pela actuação política dos dirigentes do PS. Para José Carlos Vasconcelos há um potencial desmobilizador provocado pela proliferação das candidaturas no mesmo espaço político. Defendo esta tese desde o primeiro minuto. Mas, para o jornalista, existe um outro perigo ainda maior que é o que resulta da insensata actuação de alguns dirigentes do PS. A hostilização de Alegre só serve Cavaco e só potencia a sua vitória à primeira volta. Mas cria igualmente dificuldades acrescidas, caso exista uma segunda volta, à reunião de todos os votos das diferentes esquerdas em torno de Soares, presumivelmente o mais votado nesta ronda. É nesse sentido que José Carlos Vasconcelos refere o desapoio que o PS tem dado a Soares, que todos percebemos não ser pequeno e que não será completamente inocente, fruto de uma inesperada falta da mais elementar habilidade política.


 

Pedra do Homem, 2007



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