Posso dizer que fiquei indignada ao ler uma notícia sobre a existência de um curso para "retocar poemas" na Companhia do Eu. Este dito curso, "Oficina do Poema", será dirigido pelo "poeta e crítico literário Pedro Sena-Lino" e anuncia assim o seu programa: "Escrevi um poema mas não sinto que ainda esteja acabado... O que mudar? O que alterar? Como desenvolver as ideias importantes?... Traga o seu poema e venha trabalhá-lo".
Chamem-me retrógrada, com manias de exímia, mas para mim isto é demais. A poesia ainda representa para mim uma das artes mais nobres, juntamente com a música e a pintura. Que as pessoas leiam, procurem saber e aprender as correntes literárias e reflictam em conjunto para aprofundar reflexões sobre temáticas da sua escrita é uma coisa, mas que frequentem um curso para retocar os seus poemas é surpreendente. O que é um poema para estas pessoas? Que banalidade é esta? Não se confunda poesia com outro produto qualquer! Que não se confunda a escrita de um poema com um serviço qualquer!
Quando o escritor escreve o poema vive uma experiência solitária. Está em ligação com a sua voz mais profunda. Um universo exterior cruza-se com um universo interior e o escritor é um instrumento que revela o mistério, a luz, a inteligência e as palavras resultantes desse encontro.
E é precisamente por isso que se chama poesia. E é precisamente por isso que encaramos a poesia como uma arte. Fora disto é um serviço como outro qualquer, ou seja a sua morte.
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