Questionar a legitimidade de Cavaco Silva pelo facto de a vitória ser por umas décimas apenas é politicamente um disparate. Cavaco ganhou à primeira contra quatro candidatos da esquerda. A vitória, mesmo que fosse por um único voto, é sempre inequívoca. Cavaco ganhou ainda contra o partido no Governo com maioria absoluta cujo candidato teve o resultado que se sabe.
Na esquerda emergem, desde a primeira hora pós fecho das urnas, dois discursos vitoriosos: o de Alegre e o de Jerónimo. Alegre declara solene que não conseguiu os seus objectivos por umas décimas. No limite poderíamos pensar que terá conseguido os seus objectivos, ficar à frente de Soares, por cerca de 6 pontos percentuais. O conjunto das esquerdas é que por umas décimas malbaratou a possibilidade de uma segunda volta. Jerónimo melhorou os resultados de Fevereiro de 2005, viu o povo validar "este projecto de transformação" etc,etc. Derrotou de forma estrondosa, como se previa, Francisco Louçã. Alguns dos dirigentes que falaram durante a noite nem perderam tempo a lamentar a vitória de Cavaco, passaram logo para a parte do contentamento.
Depois disto o país continuará na mesma apagada e vil tristeza e Sócrates conviverá tranquilamente com Cavaco antes do novo Presidente lhe começar a "fazer a folha" de forma cirúrgica e irreversível.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats