Pintura de Amadeu de Souza-Cardoso (1887-1918)
Cabeça, 1913
Há pouco tempo li um livro hilariante que gostei imenso: O Alienista de Machado de Assis. Neste livro fala-se da primeira era da psicologia, da questão da loucura (quem são os loucos?) e da luta pelo poder numa pequena cidade de província.
Tanto neste livro como na “vida real”, ao que nós chamamos de homens comuns, quando em contacto com as teias da política e do poder, depressa mudam de atitude face a um problema, traindo muitas vezes os princípios que defenderam antes de eleitos. É como se na política o rosto de um homem se desdobrasse quase sempre em duas faces. Quando conseguem o poder os homens tomam o vaidoso gosto pelas possibilidades que se lhes oferece, o que altera a perspectiva do seu pensamento. O pensamento de um político no poder torna-se quase sempre afunilado, alienado e perde, na maioria dos casos, o sentido inventivo da conquista de soluções para as sociedades. Isto acontece a quase todos os homens, principalmente aos que sempre tiveram um fraquinho pelo poder em si próprio e fizeram, inclusivé, disso a sua vida.
Toda esta conversa porque não consigo perceber porque é que não se pode pensar, reflectir e alcançar soluções para os problemas de uma cidade ou de um país, sem que isso seja visto sempre como uma posição política pobre (entre amigos e inimigos)? Não saberemos ainda lidar com a democracia no sentido prático? Será a democracia apenas uma base para o evoluir da justiça e uma teoria para controlar a arrogância.
Esqueçam um bocadinho a política e olhem para as questões com maturidade humana, com verdadeira responsabilidade social. Olhem para os que vos criticam não como inimigos, mas como o lado de a outra face esquecida.
Acredito que daqui a 30 ou 50 anos o modelo político como o conhecemos hoje ter-se-á certamente alterado, à custa dos homens o desgastarem e de novos pensamentos o exigirem. Será uma mudança em conformidade com a forma como hoje e amanhã lidarmos com a política.
Acredito que daqui a 30 ou 50 anos o modelo político como o conhecemos hoje ter-se-á certamente alterado, à custa dos homens o desgastarem e de novos pensamentos o exigirem. Será uma mudança em conformidade com a forma como hoje e amanhã lidarmos com a política.