na mesma entrevista, referida no post anterior, Castells aborda duas questões decisivas e que infelizmente não fazem parte do debate político em Portugal.
A primeira é a questão do papel do Estado. Em Portugal sobre esta matéria prevalecem as certezas do Bloco Central que se resumem - com diferenças de eficácia mas não diferenças de fundo - a menos Estado na presunção de que isso equivalerá a melhor Estado. Abordando a questão, Castells recusa a transposição do modelo americano para a Europa e a incompatibilidade entre inovação e estado social. Comparando o modelo americano e o modelo finlandês o sociólogo afirma que "o sector público não é um travão, mas um motor, que não dispensa, naturalmente, o sector privado. A diferença é que, de um lado, há apenas o modelo empresarial e no outro é o Governo que primeiro cria condições para a inovação e garante que os benefícios são distribuídos por toda a sociedade. Um sistema de segurança social não detém a inovação."
O contraponto é a convicção igualmente irrealista e perniciosa do sector mais à esquerda de que mais Estado é sempre o equivalente de melhor Estado. Nesta como noutras questões faz falta na sociedade portuguesa um discurso e uma práctica política social-democrata e não a requentada vigarice que o Bloco Central pratica há décadas.
A segunda questão que quero salientar é a da articulação entre cultura e tecnologia. Castells defende que é a cultura que produz tecnologia e que "Portugal tem um contraste entre um sector pequeno muito moderno (...) ma a maioria não está só na idade industrial, mas mesmo numa sociedade agrária(...) a questão central é [ no plano económico] como a tecnologia e novas formas de gestão se irão difundir pelas pequenas e médias companhias. Depois, há as universidades que em Portugal ou Espanha ou na Europa não estão adequadas aos novos tempos e têm programas muito burocráticos(...).
A parte da qual discordo é a relativa à qualidade do ensino secundário que Castells identifica como sendo, em Portugal , em Espanha e na Europa, melhor do que o dos Estados Unidos. Não sei se a generalização é correcta até porque em termos Europeus o nosso desempenho é reconhecido como paupérrimo.


 

Pedra do Homem, 2007



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