A galinha dos ovos de ouro do ministro Nunes Correia - II
Posted by JCG at 2/13/2006 08:24:00 da manhãAquilo que algumas semanas atrás o Expresso noticiou, a urbanização das margens do Alqueva por obra e graça do ministro da Economia, Manuel Pinho o grande-urbanizador, fica nesta entrevista ratificado por Nunes Correia. Neste Governo, Nunes Correia aparece sempre a dizer “esfola” quando Manuel Pinho diz “mata”. Nunca Economia e Ambiente estiveram assim tão “unos e indivisíveis”. Mas descansem os portugueses, Nunes Correia esclarece, solene, que será um “turismo de qualidade excepcional. Um turismo que não passa pela massificação mas antes pelo reforço da qualidade ambiental dessa região.” Para isso serão certamente retirados da cena os alentejanos e evitado o acesso às massas proletárias cuja presença, como se sabe, degrada de forma aflitiva o ambiente da região, desde o tempo dos afonsinos.
Vamos lá ver se eu entendo o ministro Nunes Correia. Portugal investiu uma pipa de massa na construção do Alqueva. Gastou sobretudo dinheiro que não tinha, mas que Bruxelas enviou. O resto será pago com juros pelos contribuintes – a tal massa que Nunes Correia não admira – ao longo de décadas. A justificação para tão faraónico empreendimento era levar água aos campos secos do Alentejo, possibilitando uma agricultura capaz de dar cartas nos mercados europeus. Pelo meio – factor não despiciendo – construía-se o maior lago artificial da Europa, motivo de reforço do orgulho nacional. Concluiu-se a obra, que entretanto começámos a pagar, e descobriu-se que só em 2015 a água chegará aos campos alentejanos. Pelo meio o Alqueva chegou a ser considerado um dos vértices de um triângulo estratégico que iria possibilitar, finalmente, o desenvolvimento do Alentejo. Os outros vértices eram a base aérea de Beja e o Porto de Sines. Agora um novo Governo socialista – ou deveremos dizer um governo socialista de tipo novo? – descobre a verdadeira vocação do Alqueva: turismo de excepcional qualidade. Turismo de massas mas sem massificação na versão ambientalmente gold de Nunes Correia. Quanto pagou cada Português, e quanto vai pagar nos próximos anos, para permitir que esta galinha estivese apta a pôr tão apetitosos ovos? Quantos, e quais, felizardos se preparam para realizar uma excepcional acumulação de capital nas margens do Alqueva?