Acabo de ler o meu primeiro livro de Philip Roth autor que desconhecia em absoluto. " Pastoral Americana" é o título de um livro que li com prazer. Cheguei a Roth porque dele ouvi falar com insistência ao longo dos últimos anos e porque numa das minhas últimas visitas a uma livraria lá estava a olhar para mim e a desafiar-me a história do "Sueco" Levov. Não resisti. Agradeço por isso aos que dele falaram e sobre ele escreveram. Os críticos e a crítica são importantes para nos revelarem novos autores, para nos conduzirem para a descoberta de territórios que de outra forma permaneceriam desconhecidos por muito mais tempo. As questões paroquiais são claramente menores face à importância da sua acção. Sem os suplementos literárários, sem a crítica especializada como se faria o acesso dos leitores comuns, como eu, aos livros?
Ponho-me a pensar na forma como eu acedia aos livros depois da escola primária e nos tempos do liceu? Através da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e depois pela compra de livros via Círculo dos Leitores. Aliás, nos livros dessa altura que integram a minha pequena biblioteca o Círculo dos Leitrores é hegemónico só cedendo à companhia das edições "Livros do Brasil" e da sua colecção "Dois Mundos".
Ainda guardo as edições de capa dura de "As vinhas da Ira " - que me levou ao prazer de "conviver" anos a fio com Steinbeck - da "Rua Principal" ou da "Queda de Paris", todos dados à estampa antes de 1974, ou dos "Dez dias que abalaram o mundo" editado nos finais de 1975, no calor dos tempos que passavam.
Quem me terá sugerido os autores? Não sei. Julgo que terão existido opiniões de professores, provavelmente. Ou então foram felizes acasos. Os acasos são muito importantes, na literatura como nas outras coisas. Mais tarde as opiniões dos amigos passaram a ser relevantes nas escolhas.
Voltando a Roth agrada-me a escrita e a história. Roth fala-nos das mudanças que se verificaram na América no período que começou no pós Segunda-Guerra e que se prolongou até ao escândalo do Watergate. Período que ficou poderosamente marcado pela Guerra do Vietenam. Recorre para isso a Seymour Levov - um lendário atleta universitário, empresário de sucesso, continuador do sucesso do pai - e aos seus esforços para manter de pé um paraíso feito de enganos. Esforço impotente já que ele vai assitir à destruição dos pilares morais da sua família judia. Destruição perpetrada pela filha que, influenciada pelos movimentos anti-guerra do Vietenam, se torna uma militante extremista e depois uma terrorista. As bombas que ela coloca e faz explodir, implodem consigo a estrutura familiar na qual Levov cresceu e de que parecia ser o garante. Estrutura que ele, aliás, já abalara, pela primeira vez, quando decidiu manter a sua decisão de se casar com uma católica apesar de conhecer a reprovação do pai. Estrutura que ele vai continuar a abalar, nos seus fundamentos morais, quando se envolve, a propósito dos problemas da filha, numa relação amorosa extra-conjugal e quando descobre que a mulher faz o mesmo. Philip Roth com maestria revisita os alicerces do " american way of life '' e mostra através dos Levov a sua fragilidade perante as convulsões da história.
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