silenciosamente por amor a um sonho, a uma outra pessoa?

Depois do racionalismo que tudo pretende explicar, será a crença de um amor incondicional a Deus a última fronteira da irracionalidade? Apesar das normas, dos moralismos e do absolutamente necessário sentido de justiça, a expressão do lado irracional sempre foi imperioso ao homem. Parece contraditório, mas ele também precisa dessa irracionalidade para encontrar o sentido do seu lado racional. Só a cultura pode trazê-lo à tentativa da compreensão. E só o amor pela beleza e pelo próximo o pode, talvez, apaziguar, levá-lo a exprimir a irracionalidade noutras violências, menos corrosivas.
Não servem estas palavras para desculpar os acontecimentos de absoluta violência e intolerância religiosa que observámos nos últimos dias nas televisões do mundo inteiro. Servem, talvez, para tentar encontrar formas de lidar com situações como esta que, de resto, exigem muito de todos nós. E é precisamente aqui que não podemos ceder! Mesmo que na nossa História, como na de todos os povos, encontremos razões para nos culparmos, não é agora a melhor altura para baixar a cabeça ou reflectir sobre isso. Agora o momento exige que tenhamos uma atitude firme perante os acontecimentos, sem cobardias, sem medos, sem falsos bons sensos! É nesta altura que devemos recordar o que custou a muitos a conquista do sentido da liberdade, da justiça, da livre expressão de ideias. Muitos morream por isso, não por um Deus, mas por isso, por ousarem amar mais a Humanidade e o Futuro do que a um Deus único. Que nos lembremos que a livre expressão de ideias também é o resultado de muitos caminhos no domínio da Ciência, da Justiça, da História das Artes. E não pensem que me orgulho de tudo o que a Europa é ou foi, muito pelo contrário!
E para finalizar é preciso não esquecer que os Media e o inflame oportunista dos grupos radicais são os geradores da violência e do medo que se tem instalado. São também eles os motores destas manifestações de indignação, às quais o Islão tem, à luz da sua crença, todo o direito. São marchas de indignação e revolta antigas, geradas por uma "compreensiva" recusa de subjugação e por um forte sentimento de pertença. As reacções e manifestações eram de se esperar, mas nunca esta inaceitável e despropositada escalada de violência.

Se um dia o sentimento de pertença fosse outra coisa, para todos nós ...
mesmo que fosse um mistério, um planeta, a multiplicidade...


Stonehenge, monumento megalítico, Inglaterra.
photographed/published by Unichrome of Bath
from Emily Mace website


 

Pedra do Homem, 2007



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