estão em polvorosa com a inesperada oposição dos franceses às propostas do Contrato Primeiro Emprego de Villepin. Uns não compreendem os franceses, esses ingratos que querem preservar um mundo que já não existe. Um mundo em que o trabalho tenha direitos para lá do direito ao trabalho pecário... quando ele existir, e do direito a receber algum dinheiro. Pouco mas algum como salientam outros.
O que está em causa em França, e um pouco por todo o mundo ocidental, é a destruição de um modo de vida em que os objectivos da eliminação das desigualdades sociais, de promoção da justiça social e da justiça na distribuição da riqueza produzida, são colocados no rol das velharias sem préstimo em favor da apologia da diminuição do papel e da intervenção do Estado na economia. O objectivo que se persegue com a desregulamentação não é a excelência económica, que qualquer apóstolo do mercado sabe que não se alcança pelos simples mecanismos do mercado. O que se pretende é a precarização do emprego como forma de potenciar a avalanche de desempregados no único sentido que interessa ao patronato: o da diminuição dos salários como forma de potenciar a acumulação privada de capital. Trata-se de um retrocesso civilizacional que nos leva de volta aos tempos das primeiras lutas pelo direito ao trabalho na América dos primórdios do século XX. Uma coisa sinistra. Os apóstolos defendem a acumulação da riqueza num número cada vez menor de mãos e a recuperação de prácticas cada vez mais desumanas na relação com as massas trabalhadoras.
É isso que está em causa. O resto são cantigas.

Adenda: Na Alemanha o centrão já aprovou leis no exacto sentido que os franceses condenam. O desemprego cada vez maior potencia a aceitabilidaden social desta medida. A prazo assistir-se-á à erupção do vulcão e à demolição da actual maioria. Não serão necessários mais do que dois ou três anos.


 

Pedra do Homem, 2007



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