Prisão com milhares de crianças que nunca viram um cachorro, uma vaca, um cavalo ou um jardim. Hong Kong, 1995.
Marina Drive, com a silhueta de Bombaim ao fundo, onde muitos pobres optam por dormir para estar presentes quando começar a distribuição de comida no dia seguinte. Bombaim,Índia, 1995.
Grupo de rapazes que chegaram recentemente à Cidade do México e que agora vivem de trabalhos esporádicos. Os 17 jovens, entre 12 e 16 anos, dividem dois compartimentos subterrâneos de concreto. Cidade do México, México, 1998.
Em São Paulo, a maioria das crianças de rua que podem ser vistas vagando à noite também são viciadas em cola e, mais recentemente, começaram a fumar crack. A necessidade de dinheiro para comprar drogas leva muitas delas ao crime e à violência. São Paulo, Brasil, 1996
Quando vemos estas fotografias de Sebastião Salgado, tiradas na década de 90 e as comparamos com os dias de hoje, depressa concluiremos que pouca coisa mudou para melhor nestes lugares. A violência está a levantar-se cada vez mais, nomeadamente nas grandes cidades. Apesar da quase indiferença a este tema de que tão repetidamente se fala, é bom lembrar que nenhum de nós é capaz de prever com exactidão que tipo de violência é a que vamos assistir e confrontar nos próximos tempos. A infindável multidão de exluídos está a acordar, conhece as fragilidades do outro lado, as brechas, sabe que o outro lado também está em decadência, está podre. Existem fragilidades e linguagens sociais que atravessam todas as suas sociedades e todas as classes. Tal como não se consegue perceber como é que o ser humano consegue sobreviver em determinadas condições, a que chamamos "desumanas", também não conseguiremos prever as formas do seu ódio e a dimensão da sua força. Desconhecemos o que é o ser humano em determinadas condições. Desconhecemo-nos a nós próprios em determinadas condições.