A Ministra da Educação declarou que a greve dos professores visa prejudicar os alunos e criar-lhes dificuldades acrescidas nos exames que se avizinham. Para a Ministra é irrelevante discutir a dimensão da adesão à greve, o que importa é discutir as consequências dessa mesma greve para os professores que a ela não aderiram e para os alunos.
A Ministra tem o direito de não concordar com a greve. Tem o direito de entender que são meramente partidárias as razões que a motivam. Mesmo que seja a única pessoa a ver as coisas desta maneira tem o direito a esta sua via particular de se relacionar com a realidade. Mas sinceramente não pode, sendo ministra de um governo democrático - ainda por cima eleito com uma maioria de esquerda, um governo socialista - colocar desta forma em causa o direito à greve. De acordo com a ideologia de Maria de Lurdes Rodrigues as greves devem discutir-se pelos inconvenientes que causam aos profissionais que a ela não aderem e aos "utentes" que são prejudicados pela sua ocorrência. Para ela isso é uma responsabilidade dos grevistas.
Nessa perespectiva, naturalmente, as greves são sempre incompreensíveis porque a sua agenda nunca é a agenda daqueles a quem prejudicam - saberá a Ministra que uma greve prejudica sempre aqueles a quem os grevistas prestavam um determinado tipo de serviço? Alguém lhe terá explicado isso no Governo? - ou a quem contestam. Ter-lhe-á ocorrido nalgum momento que as greves são uma resposta constitucional que os trabalhadores estão autorizados a utilizar para contestarem acções hostis do patronato, do Governo ou de ambos? Coisa que aliás ajuda a estabelecer a diferença entre democracia e ditadura.
Foi necessário uma senhora Ministra de um governo socialista para se escutarem este conjunto de dislates e esta actuação prepotente, autoritária e politicamente inequívocamente de direita. Para se escutar uma governante de esquerda -sem ofensa- a questionar de forma aberta o direito à greve com o conjunto de espantalhos que durante décadas foi utilizado pela direita?
E ainda só passaram 32 anos do 25 de Abril.


 

Pedra do Homem, 2007



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