Cavaco Silva falou outra vez dessa vergonha nacional que constituiu a mais desigual distribuição da riqueza da União Europeia. Exigiu que essa situação fosse corrigida e apelou à exigência de todos e à contribuição de todos com o seu exemplo no cumprimento das obrigações fiscais.
É bom escutar um Presidente da República a falar desta chaga nacional no dia de Portugal. Trata-se do momento mais apropriado para falar do maior problema do país: a insuportavelmente desigual distribuição da riqueza.
Cavaco tem certamente muitas responsabilidades no estado a que isto chegou. Todos os que passaram pelos diferentes Governos terão as suas, maiores ou menores. Mas revela vontade de alterar a situação. Tem pelo menos a coragem de falar do assunto. Não se fica pelo crescimento da economia. Mostra que é muito menos liberal nas suas convicções do que muita gente supostamente à sua esquerda. A começar pelo primeiro-ministro que nunca conjuga no seu discurso crescimento com a partilha mais equitativa da riqueza gerada, o que não pode deixar de nos surpreender já que se trata de um primeiro-ministro socialista.
Os comentários de Sócrates ao discurso de Cavaco não soam a sinceros. Parecem marcados por um indisfarcável cinismo. O que quererá dizer o primeiro-ministro quando refere que considera o discurso muito apropriado num momento em que 10 milhões de portugueses contribuem todos os dias para o progresso do país apesar do pessimismo de alguns? O que quererá isto dizer?


 

Pedra do Homem, 2007



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