Lido no Courier Internacional: A guerra na voz dos que escrevem
Posted by MJB at 8/12/2006 02:09:00 da tarde
Sunrise in Jerusalem - fotografia retirada do site Photo.net.com
" (...) De repente, com a primeira salva de mísseis, reencontrámos essa sensação familiar de uma guerra conduzida contra um inimigo impiedoso que ataca as nossas fronteiras, um inimigo verdadeiramente feroz, não um inimigo que luta pela sua liberdade e pela autodeterminação, não um inimigo que nos faz um nó na garganta e lança a perturbação entre nós. Estamos de novo convencidos da justeza da nossa causa e reencontramos, à velocidade da luz, a protecção do patriotismo que quase tínhamos abandonado. (...)"
Etgar Keret, escritor e dramaturgo, autor de culto em Israel, principalmente entre os jovens, nasceu em Telavive a 1967
"(...) Não tenho posição, não tenho partido, estou apenas devastado, porque pertenço, de corpo inteiro, a esta violência. Olho para a terra do meu pai e da minha mãe e vejo-me a mim: podia matar e podia estar dos dois lados, dos seis lados, dos 20 lados. Podia indavadir e aterrorizar. Podia defender-me e podia resistir e, para cúmulo, se fosse de um ou do outro, saberia justificar cada um dos meus actos e justificar a injustiça que me habita, saberia encontrar palavras, para dizer como me massacraram, como me roubaram toda a possibilidade de viver. Esta guerra sou eu, eu sou esta guerra. É um "eu" impessoal atribuído a cada pessoa e quem poderia dizer o contrário? A cada um a mesma angústia. (...)"
Wajdi Maouawad, dramaurgo e encenador, nasceu em Beirute em 1968
"(...) Durante dezenas de anos Israel sacrificou o seu sangue e a sua economia num conflito contra os palestinianos, que mobilizou o essencial da reflexão e dos debates nacionais. (...) O conflito actual torna ainda mais urgente a assinatura de um acordo com os palestinianos. (...) Mas não nos enganemos: isso não nos vai valer a amizade de ninguém no Médio Oriente. Israel permanecerá, aos olhos da maior parte dos países árabes, como um enxerto estrangeiro na região. (...) Os cruéis actos de guerra do Hezbollah levaram muitos israelitas a pensar que as duas frentes nas quais combatia o seu país não eram senão uma e a mesma ameaça para a sua existência. Mas agora que o Hezbollah se dedica à destruição de Israel, a maior parte dos palestinianos acabou, talvez a contragosto, por aceitar a existência do Estado hebreu e a necessidade de dividir o território que connosco partilham".
David Grossman, filósofo e escritor, nasceu em Jerusalém em 1954
"Se nos abstrairmos do conflito israel-árabe e dos interesses políticos do Ocidente, a origem do problema libanês parece estar ligada à "posição" privilegiada do país: na região, o Líbano representa um tecido humano e cultural único, perfeitamente adaptado ao surgimento de um desenolvimento democrático, num ambiente antidemocrático. Contudo, essa democracia estaria, evidentemente, em contradição tanto com os regimes árabes actuais como com o de Israel. (...)
Na verdade, graças à sua situação específica, o Líbano, que defende a liberdade de pensamento, poderia dar um impulso favorável ao desenvolvimento de uma sociedade civil laica, poderia contribuir para o surgimento de um Estado cujos valores, respeitadores do humanismo, seriam totalmente isentos de todos as convicções e filiações religiosas, num Estado cujos cidadãos seriam livres para seguir as suas crenças e também para serem religiosos. (...)
O perigo que hoje se corre é o de um regresso aos tempos dos profetas, dos apocalipses, das guerras e do desespero. Um regresso ao obscurantismo."
Adonis, poeta, viveu muitos anos em Beirute, nasceu na Síria em 1930