(...) "Então a minha alma encheu-se de piedade. Imaginei a primeira manhã do tempo, imaginei o meu deus confiando a mensagem à pele viva dos jaguares, que se amariam e se gerariam sem fim, em cavernas, em canaviais, em ilhas, para que os últimos homens a recebessem. Imaginei essa rede de tigres, esse quente labirinto de tigres, dando horror aos prados a aos rebanhos para conservar um desenho.
(...) Um homem confunde-se, gradualmente, com a forma do seu destino; um homem é, afinal, as suas circunstâncias. Mais que um decifrador ou um vingador, mais que um sacerdote do deus, eu era o encarcerado. Do incansável labirinto de sonho regressei à dura prisão como a minha casa. Bendisse a sua humidade, bendisse o seu tigre, bendisse a abertura de luz, bendisse o meu velho corpo dolorido, bendisse a treva e a pedra". (...)

Jorge Luís Borges, O Aleph, excertos do conto "A Escrita do Deus"


 

Pedra do Homem, 2007



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