Quem se interessar pelo futuro político da Europa não deverá deixar de comprar a última edição do Courier Internacional e ler o trabalho "A falência da Nova Europa", também disponível on-line. Trata-se de uma " radiografia ao estado da extrema-direita europeia" que avança desde a Alemanha, aos Balcãs, passando, como é sabido, pela França, Polónia e até pela vizinha Espanha. Por toda a Europa, o ressurgimento da extrema-direita, demonstra que algo falhou na contrução do ideal europeu, tão subjacente na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia onde podemos ler "Os povos da Europa, estabelecendo entre si uma união cada vez mais estreita, decidiram partilhar um futuro de paz, assente em valores comuns. Consciente do seu património espiritual e moral, a União baseia-se nos valores indivisíveis e universais da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdade e da solidariedade; assenta nos princípios da democracia e do Estado de Direito. Ao instituir a cidadania da União e ao criar um espaço de liberdade, segurança e justiça, coloca o ser humano no cerne da sua acção."
É certo que o estado global do Mundo mudou e o clima da insegurança se propagou. Desconfiamos, temos medo. Dantes, tínhamos curiosidade pelas culturas que desconhecíamos, agora, a primeira reacção a essa diferença parece ser o medo. O próprio terrorismo prolifera sobretudo num crescendo de ansiedades e insatisfação geral. O terrorismo está atento, escolhe o momento para agir, espera até explodir num chão que se inflama rapidamente. A complexidade assustadora deste novo Mundo é a falência da forma como se têm vindo a construir as estruturas políticas e o resultado do modo como a integração do Outro tem sido feita nos espaços da cidadania. O sistema político e por conseguinte a política de poderes está no cerne de toda esta questão.
Os políticos que acreditam na causa democrática, têm que mudar o seu discurso, têm que mudar o tom. E têm que o fazer antes que os extremistas possam arrastar multidões com o seu discurso apocalíptico da última jangada. Os políticos têm que agir de acordo com o que teorizam. Não é tempo de ceder sempre aos mesmos poderes instalados. Têm que chegar às pessoas pela possível partilha da verdade, apelando ao que é importante para todos os seres humanos, independentemente da raça ou crença religiosa. Apesar de não estar no activo, Al Gore, soube fazê-lo e muito bem, trazendo para a ordem do dia questões que interferem com a vida de todos e com a do planeta em que vivemos através de conferências e posterior documentário An Inconvenient Truth.
Perante o ressurgimento dos movimentos populistas na Europa e sabendo que as grandes questões são as desigualdades sociais, a xenofobia e a imigração, é de lamentar que a Comissão Europeia não tenha a capacidade de gerar dinâmicas mais eficazes que possam inverter esta situação. Às vezes, parece-nos uma máquina com um lento engenho burocrático, sufocada pela pressão das agendas políticas internas e ultrapassada pela velocidade dos acontecimentos. Do ponto de vista da acção política de cada país, de cada autarquia, há que recuperar a dignidade do estatuto do político e ter a coragem necessária para empreender esforços indispensáveis: recordo as palavras do jornalista Ivan Krastev do Open Democracy "O que falta à Europa é um reformista digno desse nome, que responda às expectativas dos cidadãos sem ceder a esse primitivismo populista. Esse fosso escancarado entre as elites e o resto da população, nos Estados-membros, é o que mais ameaça hoje a construção europeia".
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