o Editorial de José Manuel Fernandes, no Público de hoje, sobre a deliberação da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social - relativa a um artigo de opinião de Eduardo Cintra Torres em que acusava o Governo de ter tido ingerência na forma como a RTP fez a cobertura da época de incêndios.
Cito: "Está a acontecer pior do que se previa. Muito, muito pior. A ERC, tal como aqui se alertou que podia vir a acontecer, transformou-se na principal ameaça à liberdade de imprensa em Portugal. Não é ainda uma comissão de "exame prévio" como no tempo do Estado Novo - mas não só se comporta com arrogância, preconceito, atitude de superioridade e poderes irrecoríveis, como o actual Governo, que tem a obsessão pelo controlo da informação, propôs, através das leis de televisão e da relativa à concentração dos media, que venha a ter poderes absurdos que, no limite, lhe permitiriam exercer censura em directo, interrompendo programas ou limitar o acesso aos media de operadores com capacidade para criarem empresas rentáveis e, por isso, menos sujeitas às pressões dos diferentes poderes.(...) E foi ao ponto[ a ERC] de considerar que um texto de opinião não devia ter sido publicado, isto é, que o director, eu próprio, o devia ter censurado. Numa deliberação com passagens que roçam a infâmia e a desonestidade intelectual, a ERC concluí que eu devia ser censor.(...) Eu acredito na liberdade e no confronto de opiniões. A ERC não. Não pisou apenas o risco: utilizou os seus poderes contra a nossa liberdade."


 

Pedra do Homem, 2007



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