Causou alguma sensação a declaração de Ségoléne Royal, no congresso do PSE, de que o senhor Trichet tinha que passar a ter a rédea mais curta em matérias que interessam à vida das pessoas. Como é do conhecimento geral as taxas de juro aumentaram cerca de 75% no último ano o que representa, sobretudo para as populações mais endividadas, um créscimo de custos quase incomportável para os seus orçamentos familiares. Sobretudo por via do acréscimo de encargos com as rendas do crédito à habitação.
Como é também do conhecimento geral a actuação do Banco Central Europeu e a sua autonomia resultam de um conjunto de opções políticas dos Estados Membros. Opções largamente determinadas pelos partidos socialistas europeus e em particular pelo partido pelo qual a madamme Royal irá tentar conquistar o coração dos franceses na sua viagem rumo ao Eliseu.
Soa, por isso, a hipocrisia esta conversa à volta da legitimidade do senhor Trichet. Sobretudo aquela parte do discurso da senhora Royal a recordar a falta de legitimidade política do governador do BCE já que não foi eleito pelos cidadãos. Este discurso, muitas vezes usado contra a autonomia dos juízes e do sistema de justiça, bebe no populismo mais reaccionário que se pode encontrar por essa Europa fora e de que em Portugal temos alguns exemplos bem sucedidos.
O que a senhora queria dizer é que neste momento em que as dificuldades das famílias europeias, resultado de opções de política económica de mérito duvidoso, aumentam está na hora de encontrar um bode expiatório. Neste caso Royal apontou o dedo a Trichet. Pudera, queriam que apontasse o dedo a si própria ou aos seus camaradas ali reunidos?


 

Pedra do Homem, 2007



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