Parece que a coisa anda a ser discutida entre o Governo e a ANMP. O Secretário de Estado do Ambiente acha a ideia promissora. O objectivo é impedir que menos carros afluam ao interior das grandes cidades - Lisboa e Porto - e dessa forma minimizar as emissões gravosas para o ambiente.
Hoje na Antena Aberta discutia-se a questão e os termos de comparação eram Estocolmo, Londres e Singapura além de Milão. Todas elas terão recorrido à portagens para limitar o acesso ao seu interior. O caso mais mediático é o de Livingstone "o vermelho", Mayor de Londres, para grande desgosto de Tony Blair, que optou por essa solução em Londres. Apenas numa parte de Londres, no entanto.
Confesso a minha antipatia por medidas deste género. Em primeiro lugar porque a sua adopção vai penalizar muita gente que não tem outra hipótese de se deslocar. Em segundo lugar porque penaliza pessoas que necessitando de trabalhar no interior da cidade não consegue encontrar habitação para a sua família senão na periferia. Situação que está na origem de centenas de milhares de deslocações dia, só na área metropolitana de Lisboa, que se poderiam evitar se o Estado e as Autarquias não se demitissem de promover políticas públicas de habitação capazes de promover o respeito pelo desígnio constitucional. Contribuindo dessa forma para um melhor ambiente, para aumentar a produtividade de milhares de empresas, para reduzir a depêndencia energética do País e para melhorar a qualidade de vida de centenas de milhares de portugueses. Contribuindo para um Portugal mais próspero.
Parece-me que avançar com uma medida destas antes que o Estado assuma todas as suas responsabilidades e esgote todas as alternativas é inflingir mais uma punição a centenas de milhares de portugueses.

Adenda: não concordo, naturalmente, com aqueles que, diariamente, recorrem ao automóvel e o utilizam individualmente, quando existe uma alternativa pública que pode até representar uma poupança significativa para o seu agegado familiar. Mas o problema é que o Estado consome recursos a promover o aumento da oferta de transportes públicos e o reforço das infraestrutruas viárias e dos restantes meios de transporte, para depois permitir que o desenvolvimento urbano se faça a reboque dos interesses dos promotores imobiliários com o crecimento descontrolado a hipotecar os investimentos feitos. Veja-se o crescimento vertiginoso do Montijo e de Alcochete e as consequências para a circulação na Ponte Vasco da Gama. Recorde-se o que se escreveu sobre formas de conter a expansão urbana na altura da construção da ponte. Não passarão cinco anos para que o acesso a Lisboa se faça todas as manhãs pelo método do conta-gotas com a situação a inverter-se, no que se refere ao sentido, ao fim do dia. Ora as pessoas foram para o Montijo ou para Alcochete porque a oferta de habitação lhes pareceu a um preço interessante. Nâo são masoquistas que preferem deslocar-se todos os dias para trabalhar em vez de viverem em Lisboa. Em Lisboa são os interesses da oferta que dominam a produção de habitação e os fogos destinam-se a quem pode pagar aos preços que se praticam desprovidos de qualquer razoabilidade. Para gáudio dos que acumulam as mais-valias e para castigo dos que são expulsos para as periferias. Os vencedores e os vencidos.


 

Pedra do Homem, 2007



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