Com um dia de atraso - a Internet não está acessível em todo o lado - aqui fica o meu comentário sobre a renúncia de Carrilho ao seu lugar de vereador.
O primeiro comentário é que esta saída não se reveste de qualquer surpresa. Quando a concelhia de Lisboa do PS se solidarizou com Carrilho retirando a confiança política a Nuno Ribeiro Gaioso, o vereador que denunciara a falta de liderança de Carrilho e, mais grave, a sua sistemática ausência nas reuniões da Câmara, mesmo nas mais importantes, escrevi mais ou menos o seguinte: " a solidariedade da concelhia lisboeta do PS com Carrilho mostra que o ex-ministro da cultura já não pesa rigorosamente nada para o futuro do PS em Lisboa. Carrilho é uma carta fora do baralho para o assalto à liderança da Câmara de Lisboa e, para assinalar esse facto, nada melhor do que uma pública manifestação de solidariedade, tanto mais que do outro lado está Nuno Gaioso, escolhido por Carrilho e certamente um dos, senão ó único, homem de confiança de Carrilho."
A manifestação de solidariedade política era, confirma-se agora, um epitáfio na aventura de Carrilho na autarquia lisboeta. Dela sai sem honra nem glória. Com uma imagem pública muito mais desgastada do que quando para lá entrou. Se tivesse ganho a autarquia talvez pudesse ter construído, a partir daí, um contrapoder a Sócrates dentro do PS. Tendo perdido e, sobretudo, tendo actuado da forma que actuou neste último ano, depende exclusivamente da vontade de Sócrates para sobreviver na vida política. Esta demissão é um gesto de resignação, de
saída de de cena, que permite deixar o caminho livre a Sócrates para decidir sobre quem irá liderar a candidatura do PS nas próximas autárquicas. O renunciante espera com este gesto atempado suscitar a boa vontade do todo-poderoso e obter posteriormente a recompensa. A vida custa a todos.

Adenda: Carrilho pretendeu justificar a sua saída como uma decisão que se foi impondo pelo decorrer dos dias ásperos, desconfortáveis, deste seu primeiro, e único, ano de vereador na autarquia lisboeta. No mesmo instante Miguel Coelho, o inamovível patrão da concelhia socialista, veio esclarecer que a coisa estava combinada desde há mais ou menos sete meses. E acrescentou, num momento de uma irreprimível malvadez, que, por vontade própria, Carrilho nunca teria tomado posse como vereador e que ele Miguel Coelho, o sensato, é que lhe tinha chamado a atenção para a palavra dada e que talvez devesse ponderar renunciar mais tarde, talvez um ano depois quando as memórias estivessem mais esbatidas. Miguel Coelho é um especialista nesta delicada matéria a que poderíamos chamar asssassinatos políticos mas este terá sido, certamente, um dos que lhe deu maior prazer. Cinco estrelas.


 

Pedra do Homem, 2007



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