Os tempos de antena do PSD já tinham merecido uma referência a propósito da sua suposta não tomada de decisão pelo sim ou pelo não neste referendo. Suposta, digo bem. Ontem enquanto regressava de Lisboa tive oportunidade de escutar dois tempos de antena do PSD na Antena Um. Obedecem ao mesmo esquema: um texto lido por uma senhora que faz a introdução ao tema e a ligação às intervenções dos convidados. Uma primeira nota: todos(!!!) os intervenientes nos dois tempos de antena são assumidamente pelo Não. O texto de fundo, digamos assim, martela duas ou três ideias fortes, a saber: Hoje não há dúvidas, às dez semanas já existe vida humana; A medicina e a ciência são claras, às dez, mesmo às oito, semanas já existe vida humana. Estas verdades científicas levam a senhora, o PSD na realidade, a concluir com a pergunta sacramental: será legítimo destruir uma vida?
Se alguém espera que nestes tempos de antena apareça algum militante do PSD a colocar a questão noutros termos, defendendo as posições do SIM bem pode esperar sentado. Não é que não existam milhares de pessoas do PSD que entendam que aquilo que está em jogo é, tão somente, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez quando realizada a pedido da mulher até às dez semanas em estabelecimento de saúde pública. O problema é que a direcção do partido a coberto de uma suposta posição de contribuição para a discussão faz claramente campanha pelo NÂO. Neste contexto que sentido faz o apelo final dos tempos de antena: cada um decidirá? Porque não fazem o apelo ao voto no NÂO? Confesso que prefiro, nesta questão, a campanha do CDS/PP. Defendem aquilo em que acreditam e apelam ao voto em conformidade. Embora os argumentos sejam intragáveis, dizem ao que vêem. Não se mascaram.


 

Pedra do Homem, 2007



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