O SIM ganhou. Ganharam as mulheres portuguesas. Todas as mulheres mas sobretudo aquelas que na sua vida se depararem com situações em que o recurso ao aborto lhes pareça a melhor solução para si e para os seus. Deixarão de ser perseguidas pelo Estado. Deixarão de ser humilhadas. Deixarâo de ser presas.
Ganharam todos os movimentos cívicos que se bateram pelo SIM e os partidos políticos que apoiaram a opção dos portugueses: o PS, o PCP e o BE.
José Sócrates é um vencedor esta noite. A sua posição relativamente ao referendo, por contraste com a de António Guterres há dez anos, permitiu a mobilização do PS, pelo menos de grande parte do PS, e isso foi decisivo para aumentar os níveis de participação. Ganharam ainda Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa que sempre se bateram pela despenalização das mulheres que se vêem forçadas a recorrer ao aborto.As pessoas estavam fartas desta questão. Estavam fartas de assistir ano após ano à manutenção de uma lei que colocava Portugal entre os países mais retrógados da Europa. Os cidadãos acorreram às urnas para resolver de vez esta questão. De uma forma expressiva. Votaram mais de 50% dos portugueses, se considerarmos a abstenção técnica que os diferentes especialistas estimam entre 8 e 12 %. E os que votaram deram ao SIM uma vitória esmagadora sobre o NÂO. Pelas projecções a diferença final será da ordem dos 20%.
A Assembleia da República tem agora que de uma forma rápida legislar no sentido de alterar a lei penal e no sentido de que o Estado adopte todos os procedimentos de forma a reduzir ao nínimo o aborto clandestino.
Este referendo tem igualmente os seus derrotados. Em primeiro lugar o CDS/PP que assumiu a derrota com um discurso ressabiado do seu líder a acusar José Sócrates de ser o responsável por uma página negra da nossa história. Em segundo lugar o PSD de Marques Mendes - com a cumplicidade de Marcelo Rebelo de Sousa - que fez campanha pelo NÂO embora de uma forma que pretendia ser encapotada. Mas, sobretudo, a Igreja Católica cuja campanha atingiu em muitos casos níveis chocantes de reaccionarismo e de um espírito retrógado que supunhamos já erradicado da nossa sociedade.


 

Pedra do Homem, 2007



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