Não passa uma semana sem que este Governo anuncie uma qualquer iniciativa que, invariavelmente, permitirá "a qualificação dos portugueses, um desafio fundamental que importa vencer para possibilitar o progresso do nosso país". Tudo o que o Governo anuncia, e o pouco que aparentemente faz, contribui inexoravelmente para a qualificação dos portugueses. Assim sendo o progresso pátrio coloca-se no puro domínio das inevitabilidades. Convencido desta realidade o Governo não hesita em repetir o anúncio de velhas iniciativas se não tiver nada de novo para anunciar. Existirá, aparentemente, a convicção governamental de que há um efeito indutor de qualificação e de progresso em resultado destes anúncios. Uma espécie de magia.
Mas esta semana ficámos a saber que o primeiro-ministro tenciona concentrar sobre a sua tutela vários serviços policiais e de informação. Uma espécie de big brother is watching you como aqui se escreve. Esta parece-me a maior ameaça divulgada esta semana. Ameaça para a democracia. Quem se lembrará já da polémica lançada pela Visão a propósito do serviço de informações que funcionaria na dependência do primeiro-ministro? Como referiu Constança Cunha e Sá no Público -citada na bloguítica - nem o alerta do anterior director da Judiciária para o perigo desta "concentração" de poderes nas mãos de um único homem, suscitou qualquer reacção mais audível. O poder pessoal de José Sócrates cresce na justa medida em que aumenta o silêncio à sua volta.


 

Pedra do Homem, 2007



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