Não vou agora discutir a utilização da qualificação profissional no tratamento das pessoas. Os senhores doutores, os senhores engenheiros, os senhores arquitectos etc. Ninguém neste país trata quem quer que seja por "senhor licenciado em engenharia civil". Não haveria José Sócrates de ser o primeiro. Em Portugal, no Portugal democrático, somos todos engenheiros, mesmo os engenheiros técnicos, que não são licenciados em engenharia, são, como é do conhecimento geral, apelidados de engenheiros. Mesmo os antigos regentes agrícolas que, administrativamente, passaram a engenheiros técnicos, depois do 25 de Abril, são socialmente identificados por engenheiros.
Posto isto devo dizer que não exercendo José Sócrates a profissão de engenheiro e sendo primeiro-ministro por um conjunto de méritos a que a sua qualificação profissional é estranha acho a questão completamente irrelevante. Se no entanto existirem ilegalidades claras na forma como obteve a licenciatura o Público ou outro jornal devem divulgá-las. Não foi o caso com a famigerada reportagem que em síntese se podia assimilar a um caso de "muita parra pouca uva". (*)
Quanto ao mais, acho, sempre achei, que a generalidade das universidades privadas deixam muito a desejar em termos de idoneidade e sobretudo da formação que fornecem aos seus alunos. Muitos dos alunos das privadas, em cursos não reconhecidos pelas ordens, foram maus alunos no secundário -por exemplo gente com manifesta dificuldade a matemática, alunos de negativa, que escolhem engenharia - que querem licenciar-se por razões sociais e familiares. Querem uma licenciatura que lhes permita aceder a um emprego que já lhes está destinado por um direito familiar. O sistema, infelizmente, premeia esta gente, muitas vezes pela via do emprego ou da colocação política, penalizando aqueles que obtiveram uma sólida formação. aqueles cuja capacidade é mais elevada. Afinal, perpetuando as castas familiares do antigo regime.
A responsabilidade, nesta triste realidade, da classe política que nos tem governado - incluindo José Sócrates - é tremenda. Ainda agora inventaram uma nova vigarice: o acesso ao ensino superior dos maiores de 23 anos que não concluiram o secundário. Basta escolher a privada mais permissiva e podem já começar a tratar do mestrado ou mesmo do doutoramento. Basta saber ler e escrever sem muitos erros.
(*) - Devo dizer que o meu desacordo com o trabalho do Público não radica no facto de existir uma ligação entre as públicas declarações de desagrado de Belmiro Azevedo com a actuação do Governo na questão da OPA. Subscrevo aliás aquilo que aqui foi afirmado a propósito da independência editorial do jornal. Aliás, ninguém como o Público sabe quanto são injustas as acusações a Sócrates feitas pelo patrão da Sonae. O Público tem uma aguda consciência das vantagens que Belmiro obteve com decisões concretas de Sócrates. Por exemplo em Tróia com o engenheiro a capturar milhões de mais-valias simples geradas por decisões do licenciado em engenharia.
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