Uma das questões centrais da construção europeia é o afastamento - melhor dizendo a separação - entre os cidadãos europeus e a nomenclatura política de Bruxelas e, por arrastamento, dos paises membros.
Esta realidade é desejada pelas diferentes forças políticas no poder que aspiram a ter uma opinião pública amorfa e conformada embora, nalgumas ocasiões festivas, os protagonistas façam redundantes discursos que expressam a profunda mágoa pela separação entre os cidadãos e a política e manifestam uma vontade inabalável de promover a participação cidadã e a aproximação entre os partidos e os eleitores. Palavras , apenas palavras. Na primeira ocasião lá estão eles a dar o dito por não dito e a tratar os cidadãos como atrasados mentais a quem se pode, com umas simples balelas, remeter ao seu estatuto idílico de amorfismo e de não participação nessa coisa tão sofisticada e tão complexa - só para eleitos e para eruditos - que é a construção europeia.
É o que está a acontecer agora com a manifesta vontade de não levar a referendo o Tratado Reformador, brilhantemente sintetizada na declaração de José sócrates de que "colocar a questão da ratificação neste momento diminui as condições portuguesas para levar a cabo uma tão exigente missão que é fazer o tratado".
Pensar, discutir , participar, decidir são direitos dos cidadãos cuja concretização coloca sempre um qualquer inesperado problema à classe política no poder. Quando não lhes ocorre mais nenhum declaram tão somente que por uma questão de patriotismo não devemos ir por aí. Só um anti-patriota se coloca na posição de contribuir com a sua atitude para diminuir as condições de êxito do país. (udo o que se faz na política em Portugal é, aliás, para melhorar as condições de êxito do país e ainda ontem por duas vezes o primeiro-ministro o lembrou a toda a gente mais ou menos com as mesmas palavras a propósito da Nokia e do Museu Berardo .)
Nesta altura devo declarar que me sinto um perfeito anti-patriota. Quero que haja um referendo sobre aquilo que a nomenclatura europeia aprovou e quero participar na discussão e na decisão com o meu voto.


 

Pedra do Homem, 2007



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