É este o título de um artigo de opinião de Robert Shiller no suplemento P2 do Público da passada sexta-feira. Shiller foi buscar este título a um livro com o mesmo nome dos economistas Joseph Gyanko, Christopher Mayer e Tedd Sinai. A tese defendida por estes gurus é a de que nalgumas cidades, as ditas superestrelas, o boom do mercado imobiliário pode durar indefenidamente. Basicamente o que estas brilhantes mentes defendem é que em cidades com características únicas e uma área de construção limitada, caso o PIB continue a crescer e as desigualdade dos rendimentos a aumentar ( sublinhado meu), haverá cada vez mais pessoas com recursos financeiros dispostas a pagar preços cada vez mais elevados por essas áreas limitadas.
Shiller tenta de uma forma parcial e um pouco desajeitada desmontar a tese e evidenciar o seu carácter absurdo. Mas, nestas coisas das cidades e do mercado imobiliário nada pior do que entregar a um economista, mais ou menos liberal, qualquer tentativa de intepretar a realidade. O melhor é dar mesmo uma olhadela à realidade, ela própria. No mesmo dia em que o jornal incluia nos enlatados do P2 este artigo, trazia como manchete "Crise do Crédito nos EUA alastra à Europa e assusta bolsas." A crise no crédito é, afinal, uma crise no crédito imobiliário, isto é a incapacidade dos que contrairam empréstimos para cumprirem as suas obrigações. Claro que vieram logo alguns esclarecer aliviados que se tratava apenas de um segmento da procura em que o risco era muito elevado. Pois é mas esses esquecem-se de referir que nestas coisas as crises começam pelos sectores mais vulneráveis mas não se limitam a esses. Veja-se o que aconteceu com a Bolha do Imobiliário em França na segunda metade da década de noventa e no Japão na mesma altura. Veja-se o que aconteceu com o balanço das entidades bancárias face á depreciação do mercado de escritórios em Paris e a oposição às perdas que essas instituições encetaram mantendo dessa forma uma capitação bolsista artificialmente alta.
Quem falou em cidades superestrelas? Com pés de que material?

PS - A situação nos EUA - incumprimento a disparar e preços das casas em queda - não tem paralelo com o que acontece em Portugal. No nosso caso o mercado é um mercado garantido para o lado do capital. Centenas de milhares de famílias podem ficar sem acesso a esse bem constitucionalmente protegido que é a habitação, mas o que nunca vai acontecer é uma instituição financeira falir, como acontece neste momento, às dezenas, nos EUA. Aqui as casas nunca baixam porque o Estado sempre que ocorre uma crise na procura - por recessão nos rendimentos ou por endividamento excessivo - intervêm de forma a manter os preços altos. Como? Permitindo a dilação dos prazos de amortização dos empréstimos com duas consequências: as famílias insolventes continuam a poder cumprir com os seus encargos, adiando uma situação de rotura e adiando um gave problema social; os bancos ganham ainda mais do que nos contratos originais já que a dilação do prazo é acompanhada de um esforço aumentado de cada família. O melhor dos dois mundos sempre em benefício dos do costume.


 

Pedra do Homem, 2007



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