Será que agora este caso tem volta a dar? Os Media aderiram em massa ao apelo da família, os Media e todos nós “entrámos” no fascínio deste caso. O público colunável e os ícones que são hoje uma força e um consenso no mundo ocidental ( jogadores de futebol, o Papa Bento XVI, políticos, cantores, etc.) não ficaram alheios ao drama dos McCann, aliás “assentava bem” não ficar indiferente. O caso envolve a terrível realidade de crianças desaparecidas e os McCann são o protótipo de uma família que “atrai” massas: têm dinheiro, são bem relacionados, são naturais de um país com poder real no mundo, têm uma boa aparência.
Agora que se dá uma reviravolta no caso, ficámos muito indignados. O caso é tão do domínio público que já temos um poder ou uma relação pessoal com ele. O que está agora aqui em causa é que os pais poderão ser os culpados e a comunidade receia o escândalo, a descrença na instituição familiar, nos bons princípios formados ao longo de séculos por moralistas e humanistas. O que está aqui em causa é que de repente está a aparecer “o monstro”, “a careta humana” que está presente na comunidade e em todos nós e que as instituições tentam ocultar em séculos de normalização. E quanto mais colunáveis são os arguídos mais dificuldade temos em enfrentar “a careta”. É difícil aceitar que nestas matérias se joga a natureza humana e que aqueles que a comunidade elegeu como “modelos” podem não ser exemplos a seguir. Há casos insolúveis resultantes não só do poder e do dinheiro dos arguidos, mas devido à nossa incapacidade de aceitar o descrédito nos modelos que apregoámos e também graças à anuência cúmplice com a falha da justiça. Não ousamos dizê-lo, mas “a careta” está lá, em todos nós.


 

Pedra do Homem, 2007



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