Muita da gente que fez a sua vida pelos meios do PSD está hoje muito descontente com a evolução do partido. Não pelas razões que descontentam Pacheco Pereira mas exactamente pelas suas opostas: o PSD é cada vez mais um partido afastado do poder e incapaz de oferecer a um prazo razoável uma alternativa sólida ao PS.
Para os descontentes um cenário destes configura, à escala da sua vida/carreira/interesses, uma afastamento insuportavelmente longo da área do poder, aquela zona erógena onde se gerem os orçamentos, se adjudicam as obras, se contratam pareceres, projectos e acessorias. Não estão disponíveis para essa expiação. Não fizeram mal a ninguém. Nada o justifica tanto mais que o País segue o seu caminho, o melhor caminho possível, liderado por esse socialista de tipo novo, José Sócrates, que para eles lhes parece alguém agradavelmente familiar.
Seja pela via da carreira - há lugares para todos - dos interesses - bons clientes exigem sólidas relações ao nível do poder - ou do discreto perfume que se liberta da proximidade ao poder, quase todos estão tentados a darem mais um passo na aproximação ao PS de Sócrates. Este é o momento chave da consolidação da alteração, em curso há muitos meses, da base social de apoio que deu ao PS a maioria absoluta em Fevereiro de 2005: uma base social recomposta com a entrada de largos sectores da direita que não tem tempo a perder. Num cenário de eleições legislativas, a menos de dois anos de distância, ver-se-á como a direita perde expressão de uma forma brutal - admito que PP e PSD juntos não chegarão aos 30% dos votos - e o PS conseguirá uma alargada maioria, muito perto dos 50% dos votos. A esquerda do PS valerá perto dos 20% dos votos. Esta evolução política favorável a Sócrates será tanto mais nítida quanto a governação tombar para a direita. Uma tendência que não parou de se acentuar desde o ínicio da legislatura.
A direita só tem que "gramar" a costela assistencialista deste PS que há muito substituiu as ideias de justiça social, de correção das chocantes assimetrias na distribuição da riqueza produzida, pelo asistencialismo aos mais pobres que as suas políticas não param de aumentar. Mas isso todos eles já perceberam que é um pequeno mal face a todos os ganhos que os esperam.
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