Leia-se a entrevista que o vice-presidente da Confederação da Indústria Portuguesa e presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal dá ao suplemento de Economia do Público. Está lá tudo.
Em primeiro lugar o fantasma de que o aumento do salário minimo nacional para 500 euros vai gerar mais desemprego. Claro que os empresários que pagam salários de 500 euros aos seus trabalhadores vão por isso ser privados de comprarem os seus Ferraris e de usufruirem dos lucros fabulosos que auferem. Toda a gente percebe, sem dificuldade, a relação de causa efeito entre as coisas.
Depois é o apelo dramático à redução do numero de feriados, esse factor extraordinário de redução da competitividade.
A seguir sugere-se ao Governo a colocação de um tecto nas indemnizações por despedimento, talvez para acabar com o escândalo das indemnizações milionárias das operárias texteis. Depois, preocupadíssimo com a globalização, defende um Fundo de ajustamento à dita, com dinheiros exclusivamente públicos, pois então. Quanto aos horários, e antes que alguém pudesse imaginar que o homem era um insensível, revela-se o seu bom coração cristão. Perguntado se defendia a descricionaridade no prolongamento do horário de trabalho o homem concede que não, magnânimo: "Até porque nós empresários sabemos por experiência própria que, a partir de determinado tempo extra, a produtividade acaba por ser extremamente reduzida e, portanto, não compensa. Agora, quando uma encomenda me é colocada e eu tenho que responder de forma rápida, o meu cliente não aceita que eu aumente o meu preço pelo facto de ter que recorrer a horas extraordinárias. As horas extras são caras e, portanto, nós temos que criar um mecanismo em que essas horas a mais possam ser compensadas nos períodos em que a empresa tem menos trabalho."
Claro que faltou a defesa da ideia de equiparar o trabalho extraordinário a trabalho normal até porque o senhor quer apenas acabar com o trabalho extraordinário continuando a usufruir dele.
Um perfi rigoroso do que por aí vai. Pressão sobre o Governo para intervir na economia apenas naquilo em que possa beneficiar o patronato abstendo-se de qualquer intervenção que se relacione com os interesses dos trabalhadores. Já não é o célebre "menos Estado melhor Estado". Estamos na era da defesa de um Estado de classe, ao serviço dos Patrões. Um sinal dos tempos.
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