A manchete do Público de ontem tem feito as delícias dos comentadores. A direcção editorial já veio explicar as razões deste erro crasso. Do meu ponto de vista o que se passou é que tão convencida estava a direcção da vitória de Chávez e de todos os males que daí vinham - e vinham alguns, não de somenos - que confundiu a realidade com os seus desejos, uma clássica crise de subjectivismo. Dir-se-á que não faz sentido referir o este desejo do Público exactamente o jornal que mais alerta para todos os males, reais e imaginários, do chavismo. Mas isso acontece muitas vezes: constrói-se um discurso e depois dá muito pouco jeito que a realidade não o confirme. Veja-se o trabalho de hoje no mesmo jornal. Enfatiza-se o carácter provisório desta derrota de Chávez recorrendo ao "por enquanto" que terá sido utilizado por ele - eu apenas escutei Chávez a reconhecer a derrota e a manifestar respeito pela actual constituição - e refere-se, expressamente, a "outra tentaiva de golpe" do Presidente venezuelano. Podemos pois concluir que caso Chávez tivesse ganho teria sido um golpe mas como perdeu foi uma vitória da democracia. São muito sectários estes critérios de análise.
Importante afinal é reconhecer que 3 milhões de venezuelanos que votaram em Chávez não estiveram agora do seu lado. Querem as suas políticas mas não o querem eternamente no poder. Escolheram e disseram não, uma prerrogativa apenas disponível nas democracias.


 

Pedra do Homem, 2007



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