.. não ter. Seria desta forma que poderíamos comentar algumas reacções à hipotética decisão de José Sócrates de convocar um referendo para ratificar o Tratado. Hoje no Público avança-se com a informação, ainda sob reserva, de que o primeiro-ministro está fortemente inclinado a convocar o povo para decidir. Na mesma edição, José Manuel Fernandes acusa Sócrates de claculismo e de esperteza saloia tudo porque não fez a revelação da sua decisão mais cedo e isso significa para o jornalista que não o fez apenas "porque quebrar o entendimento dos líderes durante a presidência portuguesa poderia manchar a sua imagem, e isso é a última coisa que deseja" Será que JMF acha que este argumento faz algum sentido? E será suficiente para que não devamos aplaudir a, eventual, convocação do referendo? Há muito esta tendência na política e na sociedade portuguesa. Se pensarmos na comunicação de Ano Novo do Presidente da República encontrámos alguma parte da esquerda - BE e PCP - a aplaudirem a denúncia das injustiças sociais e da desigualdade crescente mas, com a chamada de atenção, de que em 1985 quem começou tudo foi o ... Presidente. Não há necessidade.
Voltando à notícia. Se Sócrates assim o fizer, independentemente de outras considerações, merece o meu aplauso e a decisão contará a seu crédito como uma manifestação política importante por três razões: 1) mostra respeito pela palavra dada; 2) mostra que não cede a ameaças verbais descabidas, como as protagonizadas pelo ajudante de campo de Sarkozy que o acusava de traidor, por antecipação, em caso de tomar esta opção; 3) cria legitimamente um embaraço ao PSD e a Cavaco que já expressaram a sua preferência pela ratificação parlamentar.
Haverá algo de pecaminosos na habilidade política ou será apenas quando não nos agradam os resultados. Havendo tantas e boas razões para discordar de Sócrates e das suas políticas ao menos que ele convoque o referendo e que por isso o possamos aplaudir sem reservas.


 

Pedra do Homem, 2007



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