A crónica de Vasco Pulido Valente no Público do passado sábado, com o título deste post, trata com ironia quanto baste, o novo programa do Dr. Mário Soares que serve para o ex-Presidente da República mostrar as coisas boas que Portugal tem. Pelo meio, no programa que vi, Soares atirava umas farpas aos "hiperminoritários" algures entre os lambe-botas e os maldizentes profissionais. VPV trata da coisa com grande competência resumindo numa frase a essência do programa: "Mário Soares contempla Portugal com deleite. Para onde se vira só vê coisas que o encantam".
Todos sabemos que fosse outro o Governo, mais alaranjado, e Soares nunca se lembraria de fazer um progama com estas características.
Eu que apenas vi um programa, não achei qualquer interesse pelo que dificilmente verei qualquer outro, e por acaso com uma parte substancial do encantamento a ser encontrado aqui nesta santa terrinha do Vasco da Gama, fiquei banzado com o deleite soarista. Acompanhado por uma Clara Ferreira Alves, numa versão tipo "parede de bater bolas", o velho socialista, no terraço do Forte do Revelim, como um almirante olhando o mar, debitava para esclarecimento da sua acompanhante e de todos nós: "à direita temos o grande porto, muito importante, à esquerda temos a refinaria da Petrogal, a central termoeléctrica, o Terminal Mineraleiro e o Terminal de Contentores. Veja bem a importância de tudo isto". Já na Refinaria esmagava a sua acompanhante com a revelação do Pais para quem aquela refinaria, a nossa refinaria na versão soarista, estava a exportar: a América; a América de Bush, imagine-se. Ainda dizem que o País é pequeno e atrasado, os maldizentes profissionais.
Claro que ao Dr. Soares nunca lhe ocorreu que "entre a sua direita e a sua esquerda" vivem pessoas que são vitímas da concentração industrial e da falta de respeito pelo ambiente da generalidade das industrias aqui instaladas. Ele estava ali para falar das coisas que o encantam podia lá perder tempo com essas miudezas e com maldizentes hiperminoritários.
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