Uma das frases emblemáticas do advento do neoliberalismo era a célebre: menos Estado, melhor Estado. Na realidade o que se pretendia - e aquilo que efectivamente se conseguiu -era que o Estado cedesse aos privados, em exclusivo, os sectores mais lucrativos da actividade económica, nuitas vezes com a infraestrutura global já concluída e custeada pelo dinheiro dos contribuintes, e que para fazer face à nova realidade - com a perda de receitas - desinvestisse nas áreas sociais e na protecção aos sectores mais desfavorecidos.
As privatizações foram o mecanismo instrumental para concretizar essa diminuição do Estado na economia. A banca foi um dos sectores onde esse efeito mais se sentiu. Dizem-no vários autores que a liberalização do sector financeiro é sempre uma das prioridades da intervenção do FMI, sabe-se agora com que dramáticos resultados em muitos casos.
A nacionalização do Northrn Rock, o banco inglês falido por culpa da sua irresponsável gestão, lança novos dados para este debate. Depois de ter decidido injectar biliões de libras para tentar salvar o banco da falência o governo de Gordon Brown viu-se obrigado a nacionalizar o banco para evitar que esse esforço brutal dos contribuintes ingleses - que suponho não foram consultados sobre este tipo de utilização dos seus impostos - fosse parar por inteiro aos bolsos de um qualquer comprador das ultra-desvalorizadas acções do banco.
Não deixa de ser curioso que o Estado actue desta forma tão intervencionista quando de trata de salvar os representantes do poder financeiro e que se demita pura e simplesmente da defesa dos interesses dos cidadãos.
Claro que há sempre quem ache que aquilo que estava em causa neste episódio era a defesa do dinheiro dos contribuintes, assumindo como boa a argumentação de mr. Brown.

PS - O Público de hoje traz uma chamada na primeira página para a notícia da nacionalização do banco. Eu esperaria que fosse esta a manchete do jornal, mas percebo que não tenha sido essa a opção.


 

Pedra do Homem, 2007



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