Como cidadão gosto de jornalistas como o José António Cerejo. Jornalistas que fazem jornalismo de investigação e que não temem enfrentar os poderosos. São seus alguns dos melhores trabalhos jornalísticos publicados neste País em particular em questões ligadas ao urbanismo e à corrupção a ele associada. Estou certo que o Público beneficia muito de ter este jornalista nos seus quadros e que isso agrada à generalidade dos seus leitores. Pode-se até apontar um eventual conflito pessoal entre Cerejo e Sócrates, como outrora entre João Soares e Cerejo, mas o jornalista apresenta factos e coloca questões e parece ter cumprido as regras deontológicas da actividade. Qual é o problema então?
Como cidadãos acho que o Público tem todo o direito de fazer este tipo de investigação sobre aspectos presentes ou passados da vida do primeiro-ministro. Trata-se de uma figura pública e por isso a sua vida profisisional e pessoal é objecto do interesse e da curiosidade dos cidadãos.
Por fim saber-se-á se o trabalho tinha ou não fundamento e se as acusações eram ou não fundamentadas.
Julgo que a reacção de Sócrates - provavelmente inevitável - não o favorece. Existe a tentação de classificar à priori a actividade jornalística, sobretudo quando é incomoda para o poder, como pura política. Uma péssima tentação, como todos os cidadãos reconhecem e os políticos fingem que não.
Os poderosos, transitoriamente poderosos diga-se, sempre tiveram a tentação de amordaçar a imprensa. Ontem como hoje.

PS - O Público é um jornal que se descaracterizou ao longo dos últimos anos. Mas não é o tipo de trabalhos que JAC normalmente subscreve que para isso contribui. Antes pelo contrário: um Público com mais JAC é certamente um melhor Público.


 

Pedra do Homem, 2007



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