O julgamento de Adelino Ferreira Torres não deverá conduzir à condenação do ex-autarca. A julgar pelos relatos, feitos, entre outros, por um dos seus parceiros o ex-motorista José Faria, Ferreira Torres beneficiou de um esquema de enriquecimento ilícito associado à mudança de uso dos terrenos que adquiria através desse ou de outros testas de ferro. Ferreira Torres, depois da valorização desses terrenos por via da sua mudança de uso devidamente aprovada em instrumentos de planeamento urbanístico, vendiaos ficando com a totalidade das mais-valias geradas. Este esquema pratica-se a eito no país e seria pateta pensar que o ex-autarca de Amarante foi o único a "olhar o céu" à espera das famosas "wind fall gains". O que Avelino tem de particular -mas também não é caso único- é que ele estava dos dois lados da decisão. Era ele que tomava a iniciativa de comprar terrenos abrangidos, e desvalorizados, pelas políticas públicas de conservação da natureza e que depois tomava a iniciativa de lhes mudar o uso, conferindo-lhe edificabilidade, aumentando dessa forma em centenas, ou milhares de vezes, o seu valor apenas com a decisão de os reclassificar do ponto de vista urbanístico.
Num país que não inclui nas políticas públicas o combate à corrupção, o combate ao enriquecimento ílicito e que tem a legislação, e a práctica, sobre mais valias urbanísticas mais penalizadora do interesse público de toda a Europa e de uma grande parte do mundo, não é especular muito se pensarmos que Avelino Ferreira Torres, no limite, sairá ilibado de qualquer acusação.
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