Não foi por acaso que o apeadeiro, na rigorosamente nada original afirmação de António Costa, serviu para ser apresentado durante a fase pré-expo, durante e depois, como o símbolo arquitectónico da exposição. Permitiu legitimar a estratégia dos que optaram por desvalorizar a intervenção urbanística e se serviram de alguns projectos para abafar junto da opinião pública as criticas surgidas aos rumos que essa mesma intervenção seguiu.

O projecto da estação do oriente é uma síntese feliz da própria exposição: se aquela se afastou dos seus objectivos - se é que os tinha bem definidos - tornando-se numa operação de promoção imobiliária de larga escala, em parte financiada com fundos públicos ( apesar do alíbi do investimento público zero), com as dinâmicas de produção de habitação e de ocupação dos espaços a serem determinadas por lógicas exclusivamente mercantis, mas permaneceu sempre identificada com essa inocência original rapidamente perdida, a estação foi glorificada muito antes de ser construída na sua condição de objecto arquitectónico e nem a sua manifesta hostilidade para com os seus utilizadores lhe retirou prestigio. Os objectos arquitectónicos mesmo quando são equipamentos públicos, supostamente destinados a prestar um serviço, são avaliados não pela sua qualidade/eficiência ou relação qualidade/preço mas sim pelo prestígio do autor. É sobretudo esse prestígio que quem paga compra convencido que está que colhe benefícios políticos importantes dessa escolha. A estação, enquanto estação ferroviária, é uma merda, um sítio extremamente desagradável, um local impróprio para se apanhar outra coisa que não seja uma peneumonia num dia de chuva e de vento. Tenho disso uma expriência concreta.
Não deixa de ser engraçado ler as declarações de Calatrava a dizer que "Uma das coisas que me alegra em poder voltar a intervir é tentar corrigir as coisas que eu não fiz bem no início". Talvez fose boa ideia começar por explicar aquilo que fez bem ou então começar por fazer um desconto já que parte do trabalho, estou a citá-lo, vai ser corrigir os erros cometidos. Mas não tem que se preocupar, o primeiro-ministro e o presidente da câmara dois amantes de boa arquitectura, como se sabe, já colocaram a ampliação da estação como o novo símbolo "desta nova fase de relançamento da cidade de Lisboa". Pode voltar a fazer asneira que daqui a uns anos outra dupla arranjará mais uns milhões para que ele marque uma outra fase de blá,blá,blá.....

Quem nunca se compadeceu com a excelência da estação foi a SONAE que tratou de reduzir drásticamente a sua visibilidade para quem olha do lado do rio. Não se sabe mesmo se agora que a estação vai crescer o engº Belmiro não irá entaipar completamente a obra do seu colega valenciano.


 

Pedra do Homem, 2007



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