Mário Soares, no seu artigo do DN, reflecte sobre os caminhos da esquerda reformista europeia a esquerda dos partidos que, tal como o seu PS, se reclamam do socialismo democrático seja isso lá o que for no actual contexto.
Fá-lo a partir da análise da situação mundial criada pelo descalabro do sistema financeiro internacional e pela derrocada do sistema liberal e da sua economia de casino. Soares constata que a nova ordem do sistema liberal é afinal privatizar os lucros e socializar os prejuízos num cinismo chocante com os responsáveis pelas crises a saírem com brutais indemnizações - o mérito de levarem as instituições á bancarrota a ser pago a peso de ouro - e as vítimas a sofrerem o desemprego, a perda das poupanças e as consequências do aumentxo do custo de vida por força da subida das taxas de juro. "Privatizam-se os lucros e socializam-se os prejuízos - essa parece ser agora a regra - sem se importarem com os prejuízos dos accionistas e as consequências que daí vão resultar no aumento em flecha do desemprego e na quebra intolerável do nível de vida das pessoas menos favorecidas. Como de costume, são os inocentes que mais sofrem. Porque os administradores e os gestores dos bancos e demais empresas - os responsáveis - saem a sorrir, com grandes indemnizações e chorudas reformas, com total impunidade"
Mas Soares parte esta análise para denunciar a perda de identidade e de importância dos diferentes projectos socialistas que emergiram na Europa dos anos 60 e 70 como projectos dinamizadores das transformações sociais e promotores de sociedades mais desenvolvidas e mais justas e solidárias com menores desigualdades sociais. Por força de submissão ao liberalismo e pelo afastamento da sua matriz original . "Se tivermos em conta a evolução - e o desnorte - dos partidos de Esquerda, nos grandes países europeus - o SPD, na Alemanha, o New Labour, no Reino Unido, os socialistas, em França, a "nova democracia", na Itália, para só citar os maiores - constatamos facilmente o declínio dos partidos que se reclamam da social-democracia, do trabalhismo, do socialismo democrático e da própria Internacional Socialista, cuja voz, hoje, quase deixou de se ouvir. (...) É preciso, pois, repensar a Esquerda reformista, na perspectiva de fazer face, com êxito, à crise e de encontrar outro modelo económico, social e político (no sentido do aprofundamento democrático e de uma maior participação cívica dos cidadãos) para dar um novo élan à Europa (paralisada), responder à angústia e ao pessimismo dos cidadãos, quanto ao futuro, reforçando a justiça social. Voltar aos valores éticos - que foram sempre bandeira da Esquerda -, ao civismo (contra o enfraquecimento dos Estados), contra as sociedades de mercado e dos negócios pouco transparentes, lutar contra a corrupção e o tráfico de influências. Voltar à militância em favor da paz e das negociações para resolver os conflitos, lutar contra a precariedade do trabalho, contra as desigualdades, a injusta distribuição dos rendimentos, pela inclusão social, contra a degradação do ambiente e pela ordenação do território" diz Soares.
Soares tenta dinamizar este debate no seu PS que não dá mostras de estar para aí virado. Espectáculo, isso sim, muito espectáculo, muita glorificação do chefe, muitas palmas poucas ou nenhumas ideias. Veja-se o caso de Guimarães, e da encenação à la Obama apenas e só para o autoelogio e a propaganda, sem nenhuma dúvida, sem nenhuma alternativa, apenas e só o mesmo rumo para parte incerta.


 

Pedra do Homem, 2007



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