"Sócrates assegura que famílias portuguesas com poupanças podem estar tranquilas". Quem escuta as palavras do primeiro-ministro - ditas num tom manifestamente titubeante, que a crise é mesmo grave - a pretender transmitir confiança às familias fica em primeiro lugar estupefacto com o facto de a mensagem ser enviada aos detentores de poupanças. Sinal de que o sistema não está minimamente seguro e que o descalabro pode estar por um fio.
Foi Sócrates quem escolheu o destinatário da mensagem. Podia muito bem ter aproveitado para tranquilizar os titulares de empréstimos à habitação e para anunciar o controlo da subida da taxa Euribor - ou para anunciar meddias de apoio às famílias mais desfavorecidas - que se encontra mais de um por cento acima da taxa do BCE o que implica que "Prestações dos empréstimos para compra de habitação não param de subir".
Mas, já me esquecia, as intervenções do Estado só são legítimas para salvar os grandes instituições financeiras da falência e justificar o saque organizado durante anos pelos detentores do capital e pelos gestores de topo. O Estado não pode descer ao nível de pretender salvar os milhares de familias da ruína, provocada pelos canalhas que enriqueceram a troco disso.


 

Pedra do Homem, 2007



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