é este o tema da edição deste mês do Le Monde Diplomatique, já nas bancas.
Uma reflexão plural sobre a forma como as esquerdas se relacionam com o exercício do poder a partir de um conjunto de artigos de opinião de Daniel Oliveira, André Freire, António Abreu e José Neves.
Uma muito interessante reflexão a não perder.
Mas, nesta edição permito-me chamar a atenção para um artigo de João Ferreira do Amaral o conhecido economista professor do ISEG cujo título é "A crise e o Futuro". A não perder.
Partindo da análise do mecanismo de formação das crises financeiras JFA constata que todos os ingredientes potencialmente geradores de crises se conjugaram na actual: "a crise do crédito do subprime nos EU em 2007; as falências - efectivas ou evitadas in extremis pelas autoridades -de instituições financeiras, a bolha especulativa de petróleo e produtos alimentares na primeira parte de 2008, acompanhada por uma forte apreciação do euro em relação ao dólar enquanto moeda de refúgio".
JFA analisa de seguida a forma como as crises financeiras se propagam, ou não, às economias reais concluindo que evitar esse facto depende sobretudo "de instrumentos de política económica que forem accionados", explicando de seguida quais esses mecanismos e analisando o seu campo de aplicação. Mecanismos que vão desde evitar a falência de instituições financeiras passando pela injecção de liquidez e pela garantia dos depósitos, pela descida das taxas de juro "evitando que o maior risco de crédito faça aumentar o juro cobrado pelos bancos às empresas e às pessoas e, ao mesmo tempo, permita descomprimir a situção financeira das empresas e das famílias endividadas". Se tudo isto falhar resta a política orçamental e é aí que JFA acha que nos encontramos neste preciso momento.
Da análise feita à actuação das autoridades europeias conclui que é "dificil encontrar um leque mais acabado de partilha de incompetências entre a UE e os diferentes Governos."
Com efeito A Comissão Europeia "amarrada ao seu dogmatismo contra a utilização da política orçamental para expandir a economia, só veio a admitir a sua utilização para impulsionar a actividade económica há poucas semanas atrás, quando os indicadores de recessão já eram indesmentíveis. E os governos europeus, não contentes com durante muito tempo anunciarem que o problema era dos Estados Unidos e não da Europa, estiveram quase um ano e meio sem fazer rigorosamente nada para combater a crise."
JFA conclui lançando uma proposta para mudar as instituiçõs filhas do neoliberalismo que promoveram políticas económicas que se tornam reféns dos mercados financeiros com consequências teríveis no que respeita ao emprego. Propõe para isso substituir o FMI por duas instituições: uma vocacionada para controlar " os mercados financeiros que proibisse que os bancos e outras instituições financeiras aplicassem o dinheiro dos depositantes e investidores em produtos de risco" e outra que deveria "ter como foco os mercados cambiais e ser dotada de meios suficientes de intervenção - incluindo a eventual imposição de uma taxa sobre movimentos especulativos de capitais de curto prazo - para intervir naqueles mercados de forma a garantir não uma total fixidez das taxas de câmbio, mas que os movimentos destas reflitam a real situação da competitividade de cada país e não os movimentos especulativos".
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