,,, podia ter corrido pior.
Sócrates: “Tudo aponta para um cenário cada vez mais provável de recessão”
O simples facto de o primeiro-ministro ter admitido aquilo que ele e o seu governo sempre negaram, foi um momento capaz de, só por si, colocar Sócrates numa posição desconfortável de quem é obrigado a admitir os seus fracassos, ele que se coloca invariavelmente na posição de "antes e depois de nós só o caos".
O facto de a posição do Governo e do PS no diferendo com o Presidente da República a propósito do estatuto dos Açores ser de impossível defesa e suscitar na opinião pública uma posição geral de simpatia pelas posições do Presidente, criaram as condições para o pior ínicio de entrevista que Sócrates terá experimentado. Foi uma entrada à Paulo Bento com uma primeira parte sofrível.
Mas Sócrates esteve mal noutras ocasiões sobretudo em duas; quando deu pífias explicações sobre a justeza da intervenção do seu Governo no BPN e no BPP e quando desmentiu as declarações que Teixeira dos Santos fez sobre a ausência de risco sistémico no caso do BPP, afirmando que o ministro não as fizera.
Os jornalistas, que em termos gerais me pareceu terem estado a um nível superior ao habitual não se conformando, em regra , com as explicações pouco fundamentadas de Sócrates, nesta parte foram pouco incisivos e não colocaram em cima da mesa as alternativas propostas pelas oposições relativamente à necessidade de baixar as taxas de juro em particular do crédito à habitação. Deixaram passar em claro, igualmente, a explicação que Sócrates tentou dar sobre a sua suposta decisiva intervenção na baixa das taxas de juro de referência.
O pior momento de Sócrates foram dois: o primeiro foi quando confrontado com os custos das famigeradas parcerias público-privados afirmou que a renegociação das concessões visava "alisar" os pagamentos - suponho que se referia a uma certa regularidade nos pagamentos ao longo do tempo - enquanto em fundo era visível a sobreposição de dois gráficos que mostrava uma evolução que desmentia o que o primeiro-ministro estava a dizer. Só faltou o nariz crescer nessa altura para ser um momento perfeito de televisão; o segundo momento foi na referência à reforma da escola pública e à contestação dos professores. As explicações foram as do costume com a profundidade do costume, mas admitiu que em vários aspectos teve que recuar das posições que defendia com os mesmos argumentos uns meses atrás e em simultâneo desvalorizou a luta dos professores - um sintoma mais de fraqueza do que de força - que determinarou essas alterações.
Tendo a entrevista corrido de forma sofrível Sócrates, no entanto, pediu a maioria absoluta. Sócrates sabe que apesar do momento mau e da incompetente governação em muitas áreas e do deliberado incumprimento de várias promessas eleitorais, a incompetência inultrapássável da oposição de Manuela Ferreira Leite e do seu PSD-Fantasma, e a tradicional auto-exclusão da área governativa por parte do PCP e a recente adesão à auto-exclusão por parte do BE, criam condições magníficas para uma nova vitória, com eventual maioria absoluta, feita sobretudo à custa de uma reconfiguração ideológia da sua base de apoio. A qualidade da governação deixou de ser o ponto decisivo para a vitória.


 

Pedra do Homem, 2007



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